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Brasileiros usam teia de aranha para estudar poluição por microplásticos

Resultados comprovam que eles estão em todos os lugares e representam um perigo em potencial para a saúde humana

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 out 2024, 13h10
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  • Há exatamente duas décadas, a palavra microplástico foi mencionada pela primeira vez. A descoberta deste elemento curioso surpreendeu, mas não gerou muito alarde. Desde lá, no entanto, as pesquisas vêm se tornando extensas – inclusive no Brasil – revelando um cenário preocupante. 

    A bióloga Mércia Barcellos da Costa é uma das envolvidas nesse tipo de pesquisa. Por muito tempo, seu laboratório na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) era voltado para a investigação de moluscos, mas isso mudou em 2019. “Estávamos analisando amostras de sedimentos marinhos e começamos a perceber pequenas partículas coloridas quando olhávamos no microscópio”, ela explica. Eram microplásticos. 

    Desde lá a pesquisadora passou a se dedicar ao estudo desses detritos, fundando o Laboratório de Biologia Costeira e Análises de Microplásticos. “Infelizmente nós temos más notícias”, afirma Barcellos. “Coletamos amostras de toda a costa do Espírito Santo e vimos que eles estão presentes em todas elas – em todas as praias e em todas as espécies.”

    Como as aranhas ajudam no estudo de microplásticos?

    Sabendo do seu trabalho com essas partículas, uma colega de Mércia a convidou para participar de uma grande pesquisa que investigaria contaminantes atmosféricos, inclusive microplásticos. 

    Para fazer essa investigação, eles utilizaram um método inovador: teias de aranha. Geralmente esse tipo de estudo envolve equipamentos caros que consigam coletar essas pequenas partículas do ar, mas a natureza pode ser um aliado. “As teias das aranhas têm proteínas ‘adesivas’ que capturam as presas, mas que também ajudam a coletar partículas presentes na atmosfera”, ela afirma. 

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    Esse método já tinha sido empregado antes, por pesquisadores alemães, e também foi bem recebido com o estudo feito por aqui. Após analisar teias espalhadas por todo o campus da Ufes, Mércia e seus colaboradores fizeram uma publicação em um dos periódicos científicos mais renomados da área, o Journal of Hazardous Materials.

    ARANHAS - Microplásticos: elementos coloridos são encontrados nas teias
    ARANHAS – Microplásticos: elementos coloridos são encontrados nas teias (LABCAM/UFES/Divulgação)

    A investigação mostrou um resultado esperado, mas preocupante: os microplásticos estavam presentes, mais uma vez, em todas as 30 amostras analisadas. 

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    O achado brasileiro está de acordo com o que mostra a literatura científica. Trabalhos recentes, tratados em reportagens de VEJA, mostraram que essas partículas já foram encontradas tanto em locais remotos do oceano, quanto no cérebro e no pulmão de seres humanos. 

    As consequências dessa onipresença ainda não são completamente elucidadas, mas um possível problema já começa a ser levantado. Além dos perigos potenciais do próprio plástico, esses elementos podem absorver outros poluentes atmosféricos e carregá-los para o corpo de humanos ou outros seres vivos, aumentando os riscos de intoxicação. 

    Reciclagem pode agravar o problema dos microplásticos?

    O trabalho dos pesquisadores da Ufes revelou ainda que um dos locais da Universidade era mais afetado por esse tipo de contaminante do que outros. “Esse ponto se localiza junto a uma usina piloto de reciclagem de plásticos, onde rejeitos de plástico são triturados e transformados em uma resina a ser usada para suprimir a liberação de poeira dos estoques de minério e carvão em áreas industriais”, explica a pesquisadora. “Embora essa atividade contribua com a retirada de resíduos plásticos do ambiente, o processo se mostrou uma importante fonte de microplásticos atmosféricos.”

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    Outras pesquisas já indicavam que isso poderia ocorrer. Isso acontece porque essas partículas podem ter origem direta de produtos comerciais, como cosméticos esfoliantes, mas também podem ser geradas a partir da decomposição ou do processamento do plástico convencional, inclusive na reciclagem. Um problema é resolvido, mas gera outro, cujas consequências ainda são grandemente desconhecidas. 

    Como resolver isso, então? Para os pesquisadores, é unânime: é preciso eliminar os plásticos. Hoje, é impossível imaginar qualquer sociedade sem esse polímero, mas os especialistas defendem que pelo menos os de uso único, como as embalagens de frutas, as sacolas de supermercado ou até mesmo as garrafas descartáveis de água e refrigerante, seja excluídas do nosso dia a dia. 

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