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Ciência

Caixa de ferramentas pré-histórica traz novas evidências sobre evolução

Feitos com ossos, instrumentos foram produzidos por primeiros humanos há 1,5 milhão de anos

Por Alessandro Giannini SEGUIR SEGUINDO 5 mar 2025, 13h00

Ignacio de la Torre segura uma das ferramentas de osso encontradas em Olduvai, na Tanzânia - (CSIC/Reprodução)

Um novo estudo publicado na revista Nature revela a descoberta de ferramentas feitas de ossos, produzidas há 1,5 milhão de anos. O achado ocorreu em Olduvai Gorge, na Tanzânia, e é mais de um milhão de anos mais antigo do que qualquer evidência anterior desse tipo de instrumento.

Liderada por Ignacio de la Torre, a equipe de pesquisa documentou 27 ferramentas ósseas. Elas foram criadas a partir de fragmentos de ossos longos, principalmente de hipopótamos e elefantes, e moldadas por meio de uma técnica chamada lascamento, resultando em instrumentos afiados e pesados, alguns com até 38 centímetros de comprimento.

A descoberta desafia a ideia de que a produção de ferramentas ósseas pelos primeiros hominídeos era algo raro e ocasional. As evidências sugerem que esses humanos selecionavam ossos específicos de grandes mamíferos de forma intencional e os moldavam seguindo padrões consistentes. Isso indica que eles eram culturalmente inovadores, capazes de adaptar suas habilidades de trabalhar pedras para uma nova matéria-prima: os ossos.

Integração de ferramentas

Cientista manipula uma das ferramentas de osso encontradas em Olduvai, na Tanzânia - — Cientista manipula uma das ferramentas de osso encontradas em Olduvai, na Tanzânia – (CSIC./Reprodução)

A produção sistemática dessas ferramentas no Complexo T69 mostra que, 1 milhão de anos antes do surgimento de ferramentas ósseas mais elaboradas, os hominíneos do leste da África já avançavam sua tecnologia. Eles integravam grandes ferramentas de ossos lascados ao seu repertório de forma organizada. Essa integração ocorreu em um momento crucial da evolução cultural africana – durante a transição entre o período Olduvaiense tardio e o Acheulense inicial – e pode ter influenciado o desenvolvimento de comportamentos mais complexos.

As implicações dessa descoberta são significativas. O estudo demonstra que os primeiros hominídeos possuíam um conhecimento tecnológico e anatômico específico, transmitido por meio da aprendizagem social, paralelamente ao desenvolvimento de ferramentas de pedra. A capacidade de criar instrumentos de ossos também abriu novas possibilidades de adaptação, contribuindo para moldar a evolução das culturas humanas durante o Pleistoceno.