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Hino da Babilônia antiga é decifrado após 2.000 anos de silêncio

Com trechos reconstruídos a partir de 20 tábuas, o texto elogia a cidade, os deuses e descreve em tom raro a chegada da primavera e o papel das mulheres

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jul 2025, 17h30
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Por mais de dois milênios, o texto permaneceu espalhado em fragmentos de argila enterrados nas areias da Mesopotâmia. Agora, um hino milenar — dedicado à grandiosidade da Babilônia, à fertilidade de suas terras, à devoção de seu povo e à glória dos deuses — foi finalmente decifrado por especialistas em escrita cuneiforme. Trata-se de uma das reconstruções mais significativas da literatura da Antiguidade recente, feita com base em vinte tábuas distintas que, juntas, revelam uma composição poética com cerca de 250 versos. A pesquisa, conduzida por estudiosos da Universidade de Bagdá e da Universidade de Munique, foi publicada na revista Iraq, associada à Cambridge University Press.

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A cidade que emerge dos versos é retratada como um centro idealizado de riqueza, justiça e harmonia. O texto apresenta imagens vívidas do templo de Esagil, dedicado ao deus Marduque, e exalta a fertilidade trazida pelo rio Eufrates, que transforma as planícies áridas em campos floridos e férteis — um tom lírico raro na literatura cuneiforme, que geralmente privilegia feitos divinos e normas legais. Um trecho traduzido do poema ajuda a visualizar a cena:

“O Eufrates é seu rio – estabelecido pelo sábio senhor Nudimmud –
Ele sacia os campos, encharca os canaviais,
Derrama suas águas na lagoa e no mar,
Seus campos transbordam de ervas e flores,
Seus prados, em flor brilhante, brotam cevada,
De onde, colhidos, feixes são empilhados,
Rebanhos repousam em pastos verdejantes,
Riqueza e esplendor – o que convém à humanidade –
São concedidos, multiplicados e regiamente ofertados.”

Escrito em cuneiforme e copiado por gerações de estudantes, o hino foi reconstruído a partir de 20 tábuas espalhadas por diferentes acervos arqueológicos

O que o hino ensina sobre a Babilônia? 

Além de celebrar os deuses e a natureza, o hino também oferece pistas sobre a vida social da Babilônia. Um de seus trechos exalta a justiça dos homens, que protegem órfãos, estrangeiros e os mais vulneráveis. Já as mulheres são retratadas a partir do ideal de recato: sua principal virtude, segundo o texto, é a discrição e a devoção religiosa. Três categorias de sacerdotisas são mencionadas — ugbakkātu, nadâtu e qašdātu — sugerindo a existência de um papel ritual feminino institucionalizado, embora pautado por um comportamento reservado.

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Cópias desse mesmo hino foram encontradas em tábuas escolares, indicando que ele fazia parte do currículo de formação de escribas e era provavelmente decorado por estudantes durante séculos. Sua ampla difusão levou os pesquisadores a classificá-lo como um “clássico” da tradição literária babilônica, ao lado de obras como o Enuma Elish, o épico da criação.

A redescoberta só foi possível graças à digitalização de milhares de tábuas e ao uso de inteligência artificial para cruzar os trechos dispersos. Com isso, versos ausentes puderam ser recompostos e cópias fragmentadas, conectadas. O resultado é uma janela rara para os valores, as crenças e a sensibilidade de uma civilização que, mesmo há milênios de distância, ainda encontra forma de ser ouvida.

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