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Alon Feuerwerker

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Quem vai se encaixar melhor?

As angústias principais de 2022 não são as mesmas de 2018

Por Alon Feuerwerker Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h19 - Publicado em 31 jul 2022, 08h00

Cada processo eleitoral apresenta uma ou duas variáveis-chave — e navega mais facilmente a candidatura com imagem pública mais solidamente associada à capacidade de dar atenção a essas variáveis e, portanto, apresen­te-se como a mais capaz de solucioná-las.

Jair Messias Bolsonaro venceu a eleição de 2018 principalmente porque sua imagem pública, construída ao longo de décadas, estava vinculada à firmeza no combate ao crime. Isso se encaixava nas duas demandas mais sensíveis do eleitorado naquele ano: atacar implacavelmente o crime de corrupção e a impunidade dos criminosos em geral.

As angústias principais agora em 2022 são outras: a inflação e o desemprego, que trabalham para aprofundar a pobreza e a fome. Daí Luiz Inácio Lula da Silva enfrentar menos vento contra que o presidente, ou até ser empurrado por vento favorável.

Pois ao longo da década e meia petista no poder Lula foi acusado de muitas coisas, mas preservou intocada, e todas as pesquisas comprovam isso, a imagem de governar com especial atenção para o combate à pobreza, à fome e à desigualdade.

A missão da campanha do PT é congelar a hierarquia das preocupações da sociedade, fazer chegar outubro com a impressão disseminada de que a economia vai muito mal, especialmente a inflação e o desemprego. Portanto, cabe ao governismo tentar inverter a equação.

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“A missão da campanha do PT é congelar a hierarquia das preocupações da sociedade”

Há dados objetivos (os fatos costumam ser teimosos) a mostrar a redução do desemprego, e as mesmas pesquisas que trazem o favoritismo de momento de Lula mostram a percepção popular sobre a inflação melhorando rapidamente.

A dúvida é se haverá tempo hábil para consolidar a sensação de um cenário econômico mudando para melhor e que não vale a pena “mexer em time que está ganhando”. Como diz o batido ditado em língua inglesa, trata-se de batalha morro acima para o situacionismo.

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E sempre estará ao alcance do petismo repetir 2002. Se a situação eleitoral apertar, se a chapa esquentar, assumir o compromisso de não dar um cavalo de pau na economia. Até agora não tem sido necessário, pois a anabolização do antibolsonarismo “de centro” tem levado votos a Lula por gravidade, sem o PT ter de fazer qualquer concessão programática.

Será necessário olhar também como vão evoluir as taxas de rejeição dos candidatos, diante da inevitável campanha negativa que vem aí. Se Lula precisa manter o diferencial favorável nesse quesito, aumentar a repulsa ao petista é um caminho óbvio para o bolsonarismo.

Pois, quando um eleitor diz que não vai votar de jeito nenhum no candidato “x”, a saída intermediária para o candidato “y” é convencer esse eleitor a não votar em nenhum dos dois.

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Outro detalhe: nas pesquisas de intenção de voto estimuladas, a taxa de “não voto” tem girado em torno de 10%, o que é irrealista, pois a série histórica mostra esse contingente (abstenção mais brancos mais nulos) entre 25% e 30%. Por isso é recomendável prestar atenção à evolução das pesquisas espontâneas, nas quais o “não voto” aparece mais próximo dessa tradição.

Publicado em VEJA de 3 de agosto de 2022, edição nº 2800

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