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Augusto Nunes

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‘2014 está rolando’, por Fernando Gabeira

Publicado no Estadão desta sexta-feira FERNANDO GABEIRA No fim do ano recebi um envelope laminado cheio de bolinhas de isopor e um cartão de Antônio Bernardo: “2014 vai rolar”. E como! ─ pensei. Aproveitando os feriados, revi um livro de Octavio Paz, Os Privilégios da Vista. Ele menciona os calendários lunares e solares dos antigos […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h43 - Publicado em 3 jan 2014, 12h05

Publicado no Estadão desta sexta-feira

FERNANDO GABEIRA

No fim do ano recebi um envelope laminado cheio de bolinhas de isopor e um cartão de Antônio Bernardo: “2014 vai rolar”. E como! ─ pensei.

Aproveitando os feriados, revi um livro de Octavio Paz, Os Privilégios da Vista. Ele menciona os calendários lunares e solares dos antigos povos da América Central. Alguns dias ficavam de fora. Eram os dias vazios, como os definiu Paz. Não é o caso de 2014, quando temos uma conjunção de Copa do Mundo e eleições. A Copa é realizada de quatro em quatro em quatro anos, mas agora será no Brasil.

Nas eleições de que participei traçávamos uma linha rígida: a campanha começava quando a Copa terminava. Agora essa linha se dissolveu. As eleições podem invadir o espaço da Copa e esta, certamente, invadirá o espaço das eleições.

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Independente de grandes manifestações, o Brasil merecia um grande debate, pois é uma eleição que potencialmente pode definir rumos. A maioria quer mudança. Mas isso não quer dizer nada, pois as eleições podem consagrar o mesmo bloco de partidos que está no poder. O desejo de mudança vai perseguir o próximo vencedor. Ele, naturalmente, pode resistir, argumentando que venceu.

O Brasil fez a Copa para projetar uma imagem de crescimento e pujança que hoje está desfocada não só pelo medíocre crescimento, como pela precariedade de infraestrutura e serviços públicos, revelada pelas manifestações de junho. Às vezes, para simplificar o que vejo hoje no país, socorro-me da teoria do cobertor curto: você puxa para o consumo, esfria o investimento, divulga a Copa, mas os jornais falam das chuvas intensas, dos desabrigados e das imutáveis áreas de risco nas cidades brasileiras. E assim segue: você faz um cinturão de segurança, ocupando favelas com forças de paz, mas esfria na zona norte, nas áreas metropolitanas, para onde fogem muitos bandidos.

Os fatos vão estar sempre por aí, mostrando que há alguma coisa errada na maneira como gastamos o dinheiro público. Apenas 28% das verbas para prevenção de enchentes foram gastos, enquanto nos estádios de futebol o ritmo de gastos já não se limita às obras, mas alcança os reparos do que foi feito de errado, como se viu no Maracanã e, agora, no Mané Garrincha. Não bastasse tudo isso, no final do ano Renan Calheiros usou um avião da FAB para fazer transplante capilar no Recife.

Se andassem um pouco na rua, teriam ideia de como essas coisas repercutem. E ainda dizem que ouviram a voz das ruas. As tensões levantadas pelo movimento de 2013 não foram resolvidas. Isso não significa que teremos de novo grandes demonstrações. A tentativa é de empurrar com a barriga, manter as coisas como estão, permanecer no poder, às vezes até debochando das críticas das ruas.

Li na biografia de Vargas escrita por Lira Neto que alguns de seus auxiliares tentavam levá-lo a mudanças, argumentando que era preciso fazer como os atores que se renovam, lançar novas peças, atrações, senão o teatro fica vazio. O desejo de mudança que existe agora é também um certo cansaço com essa longa experiência do PT e seus aliados no governo. Ela não é capaz de indicar novos rumos. Claro que sua hegemonia eleitoral não será ameaçada se os desejos de mudança não forem canalizados pelos oponentes.

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A singularidade desta eleição com Copa do Mundo no Brasil pode trazer para o processo um interesse maior da imprensa internacional. O Brasil viverá dias intensos sob os olhares de muita gente. Tanto como no ano passado, os brasileiros no exterior certamente vão usar o momento para expressar suas expectativas sobre o país, ampliando a exposição nacional.

Assisti a alguns debates na TV e os analistas sempre mencionavam, por prudência, a imprevisibilidade. 2014 vai rolar, como diz o cartão. Mas para onde, de que jeito, com que convulsões ou espasmos? O nível de imprevisibilidade justifica-se pela presença desses elementos esparsos que de repente se podem reconfigurar de uma forma nova ─ Copa, eleição presidencial, desejo de mudança, esgotamento de um modelo econômico, perda de credibilidade do processo político. Caso não se combinem no sentido da mudança, isso quer dizer apenas que a mudança, sobretudo a ditada pela realidade econômica, foi adiada, ultrapassou o calendário de 2014.

Não apenas o ajuste econômico, mas algum tipo de renovação política seria menos doloroso se conversado antes, no momento eleitoral. Caso o processo eleitoral passe por cima desse desejo de mudança, aí, sim, o próximo presidente pode viver anos interessantes, no sentido que os chineses dão ao termo. Esse é um dos enigmas deste imprevisível 2014. Certamente há muitos outros e só poderemos desvendá-los com o tempo.

O ano apenas começou a rolar. Ainda uso palavras do ano passado e, como diz o poeta T. S. Elliot, palavras do ano passado pertencem à linguagem do ano passado e as palavras de um novo ano esperam outra voz. Isso predispõe à abertura ao imprevisível. Mas um olhar mais largo aos acontecimentos que preocuparam no final do ano mostra que eram previsíveis.

As inundações no Espírito Santo podem ser compreendidas por meio do minucioso livro de Warren Dean A Ferro e Fogo. Augusto Ruschi denunciou o processo de derrubada das matas e assoreamento dos rios. Num momento em que o Espírito Santo tinha 500 serrarias, os desmatadores levaram seu know-how para a Amazônia.

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Estive no presídio de Pedrinhas após um motim com mortes. Alguns presos foram decapitados. Anotamos uma série de problemas que precisavam ser resolvidos para atenuar a violência ali. Até audiências na Assembleia fizemos para mobilizar os atores locais. Pedrinhas de novo, motim de novo. Cabeças cortadas. Tanta discussão científica sobre se é possível viajar para o passado, encontrar uma curva fechada que nos jogue para trás no tempo. E isso é tão frequente no Maranhão… Alguém precisa dizer isso a Stephen Hawking, que dedica parte de seu livro Minha Breve História à hipótese de uma viagem no tempo.

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