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‘A oposição desconectada’, editorial do Estadão

Publicado no Estadão Perto de 2/3 dos entrevistados na mais recente pesquisa eleitoral do Ibope querem que o próximo presidente mude “totalmente” ou “muita coisa” na maneira de governar o País. Mas, no menos favorável dos cenários para Dilma Rousseff, apenas 1/3 votaria em candidatos oposicionistas se a eleição fosse agora. Com a agravante de […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h57 - Publicado em 21 nov 2013, 10h53

Publicado no Estadão

Perto de 2/3 dos entrevistados na mais recente pesquisa eleitoral do Ibope querem que o próximo presidente mude “totalmente” ou “muita coisa” na maneira de governar o País. Mas, no menos favorável dos cenários para Dilma Rousseff, apenas 1/3 votaria em candidatos oposicionistas se a eleição fosse agora. Com a agravante de que, só por uma mudança a esta altura inconcebível do quadro sucessório, nenhum deles estará nas urnas eletrônicas em outubro do ano que vem. São os adversários da candidata de Lula em 2010, José Serra e Marina Silva, ele com 17% das intenções de voto, ela com 15%, indicando que devem a sua relativa popularidade ao recall ─ a lembrança da eleição passada.

Já o cenário mais provável é também o mais animador para Dilma. Ante o tucano Aécio Neves e o socialista Eduardo Campos, ela subiu dois pontos da sondagem anterior, em outubro, para a atual, em que aparece com 43%, acentuando o seu favoritismo e a possibilidade de se reeleger no primeiro turno. A aprovação ao seu governo também se sustenta. O senador mineiro continua onde estava, com 14%, e o governador pernambucano caiu de 10% para 7%. O tropeço nem serve de alento para Marina, que se filiou ao PSB quando não conseguiu registrar como partido a sua Rede Sustentabilidade e há de guardar em algum recanto da “aliança programática” com Eduardo Campos o sonho de vir a ser ela, afinal, a encarnação da nova política que anunciam.

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Isso porque, na hipótese em que a ambientalista substitui o governador (e Serra toma o lugar de Aécio), o seu desempenho sofreu em um mês um tombo de 6 pontos ─ de 21% para 15%. A razão só pode ser uma: Marina deixou a ribalta do noticiário, onde foi parar ao aderir à sigla de Campos e onde parecia se firmar ao se tornar a crítica mais audível da gestão Dilma, a ponto de carimbá-la como “retrocesso”. Superada, aparentemente, a fase de “sabor do mês” de Marina, o eleitorado de que a amostra seria representativa voltou ao ponto de partida: Dilma em viés de crescimento, Aécio estável.

À parte o fato ofuscante de que 11 meses ainda separam os brasileiros do dia em que irão exercer o mais importante dos seus direitos políticos ─ tempo de sobra, antes de tudo, para reduzir às devidas proporções o prognóstico de vitória de Dilma já na primeira rodada ─, o que mais chama a atenção nos números do Ibope é o paradoxo que deles emerge: de cada 10 eleitores que querem que muito ou tudo mude no governo, 3 associam a preferência pela presidente ao seu desejo de mudança; ou, dito de outro modo, de cada 10 “votos” de Dilma, 4 lhe foram dados pelos mudancistas. E isso numa quadra do mandato da presidente em que sobressai a sua incapacidade de promover mudanças ─ a não ser para pior.

Não se diga que o povo é bobo. O povo simplesmente olha em volta e não vê na oposição quem assuma a sua demanda: dos insatisfeitos com o modo como o Brasil é conduzido, 44% não têm candidato. Ou, pior ainda, o povo não identifica a oposição como motor de mudanças. O que os oposicionistas dizem e fazem está desconectado da população. Anteontem, numa reunião em que os oito governadores do PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique declararam a céu aberto apoio à candidatura Aécio, ele proclamou que o partido “está pronto no ano que vem (sic) para apresentar ao Brasil uma nova proposta”. O eleitor que espere, enquanto a presidente toca a todo vapor a sua campanha.

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Os tucanos deram ao evento um nome ─ “Federação Já, Poços de Caldas+30″ ─ que não dispensa explicações. De um lado, trata-se de uma convocação, capaz de sensibilizar somente os conhecedores, pela desconcentração fiscal do País. De outro, não menos hermeticamente, alude ao encontro em que os então governadores Tancredo Neves e Franco Montoro, na mesma cidade, deram a largada à campanha das Diretas Já, em 1983.

Tamanha a distância entre o que aglutina os tucanos e o que interessa ao cidadão comum, que a sempre referida parcela não desprezível do eleitorado reage como se lesse na bandeira oposicionista a inscrição “Nada a declarar” ─ e, abaixo, em letras miúdas, “que você consiga entender”.

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