A boca à espera de um dentista abre a cantilena dos derrotados
Raul foi eleito presidente de Cuba pelo irmão Fidel, que reinou durante 50 anos sem que os nascidos na ilha depois de janeiro de 1959 aprendessem a distinguir uma urna de um criado-mudo. No último verão, dispensado da prova eleitoral, o caçula dos Castro fez bonito no exame de readmissão improvisado pela Organização dos Estados […]
Raul foi eleito presidente de Cuba pelo irmão Fidel, que reinou durante 50 anos sem que os nascidos na ilha depois de janeiro de 1959 aprendessem a distinguir uma urna de um criado-mudo. No último verão, dispensado da prova eleitoral, o caçula dos Castro fez bonito no exame de readmissão improvisado pela Organização dos Estados Americanos.
Muito justo, festejou o governo Lula. E a chamada “cláusula democrática” da OEA?, intrigaram-se os coerentes. Qual é o problema?, desdenhou o inevitável Marco Aurélio Garcia. Entre outros ensinamentos, o Alto Conselheiro para Complicações Cucarachas fez Lula aprender que, se um companheiro estiver no comando, uma ditadura é democracia. E os irmãos cubanos são flores do mesmo buquê.
Neste domingo, terminada a campanha que começou bem antes da deposição de Manuel Zelaya e não foi interrompida pela crise política, o povo hondurenho colocará um ponto final no drama que se arrasta há quatro meses. Em eleições cuja lisura terá o testemunho de observadores estrangeiros, será escolhido nas urnas, pelo voto direto, o novo presidente da pequena república da América Central.
O favorito entre seis concorrentes é um adversário do governo interino. Há candidatos para todos os gostos. Devotos e simpatizantes de Zelaya, por exemplo, são representados por Cesar Ham, da Unificação Democrática, que apoiou o presidente antes do despejo e continua ao lado do gerente-geral da pensão instalada na antiga embaixada brasileira. É um dos dois partidos que não desistiram da batalha perdida. O outro é o PT.
O vencedor da disputa, portanto, terá superado com brilho a prova eleitoral e atendido amplamente à cláusula democrática da OEA. Certo? Errado, reiterou a figura que reagiu com o mais obsceno toptoptop ao noticiário sobre o acidente com o avião da TAM em Congonhas. Seja qual for o escolhido, ordenou Lula, não merece a amizade do Brasil ─ nem deve receber de volta a carteirinha de sócio do clube continental. Se um companheiro não estiver no comando, uma democracia é ditadura.
“Eleições feitas por golpistas não têm sentido”, avisou a boca à espera de um dentista. Nenhum governo golpista jamais promoveu eleições exemplarmente democráticas, mas Garcia não é homem de render-se a fatos. Em nome do Planalto, exige que o presidente dos Estados Unidos esteja a bordo do barco no momento do naufrágio. “Estamos decepcionados com Barack Obama”, anda rosnando o conselheiro, inconformado com o prévio reconhecimento pela Casa Branca do resultado da eleição.
O que ainda espera Garcia para vingar-se espetacularmente, com um só lance, de um instável ianque e do bando de totalitários cucarachas? Como descobriu o colega americano, Lula é o cara, certo? O cara resolveu que quem tem de mandar em Honduras é Zelaya, certo? Pois basta que Lula, como acaba de fazer no Uruguai, ordene aos eleitores que escolham o aliado de Zelaya. O triunfo de Cesar Ham comprovará que o governo brasileiro esteve sempre certo. Essa é a jogada que Garcia deve sugerir ao chefe.
O resto é conversa de quem perdeu o juízo, o rumo, a compostura, a decência e a eleição.