Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A primeira frase do homem na lua foi outra

Nos grandes projetos, o semeador sai a semear a sua semente, mas raramente é ele quem colhe o que plantou

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 4 jun 2024, 15h20 - Publicado em 21 jul 2019, 11h22
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Deonísio da Silva

    A primeira frase do homem ao pisar na Lua foi “good luck, Mr. Gorsky” (Boa sorte, senhor Gorsky) e não “é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”.

    Quem a proferiu foi o astronauta Neil Armstrong, conversando com apenas uma das seiscentas milhões de pessoas que naquela noite memorável assistiam ao famoso desembarque.

    Na infância, ao buscar uma bola que caíra sob a janela de um vizinho chamado Gorksky, o menino e futuro astronauta ouvira da vizinha a seguinte frase dita ao marido:sexo oral, você quer sexo oral? Só quando o filho do vizinho pisar na Lua”. Tinha sido um modo delicado e metafórico de negar, mas ela jamais poderia imaginar que o menino um dia chegaria à Lua. Fiz uma crônica sobre esta variante e ela pode ser lida no portal do Instituto da Palavra, onde são publicadas todas as colunas que faço aqui semanalmente.

    Já estava, então, muito batida a primeira frase proferida na Lua e, mais escritor do que professor, resolvi seguir o conselho: “Quando a lenda for mais interessante do que a realidade, imprima-se a lenda”. A recomendação aparecera em 1962 no filme O homem que matou o facínora, do celebérrimo cineasta americano Sean Aloysius O’Fearna ou John Martin Feeney, mais conhecido como John Ford.

    Mas as frases talvez não sejam nem do cineasta nem do roteirista Warner Bellah, mas, provavelmente uma variante de “o importante não é o fato, mas a versão”, proferida décadas antes pelo político mineiro José Maria Alkmin, muito esperto, todavia não mais do que o seu conterrâneo Benedito Valadares. Este, ao repeti-la e atribuir a si mesmo a autoria, ouviu de Alkmin: “Eu invento a frase, você a repete e agora todo mundo diz que é sua”. E Benedito Valadares – também presente na expressão “mas será o Benedito?”, porque os mineiros ficaram surpresos pelos murmúrios de que Getúlio Vargas o escolheria para interventor em Minas Gerais – respondeu fechando a questão: “Isso prova que a frase está certa”. (ver texto de Ruy Castro aqui: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1212200905.htm)

    Todavia o filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, que nasceu na Prússia no século anterior, já escrevera: “Não há fatos, há apenas versões dos fatos”. E, se pesquisar um pouco mais, talvez encontremos a frase despretensiosamente dita por um escritor greco-latino ou por um sábio chinês.

    Continua após a publicidade

    Todos nós somos de lua? A Lua também é de lua nos relatos que dela se fazem há vários milênios. “Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho”, dizem famosos versos de nosso cancioneiro, uma vez que songbook é visita estranha ao Português. A Lua pode ser o astro protetor dos amores, mas também pode marcar flagelos para a Humanidade, a começar pelos eclipses. Desabam narrativas controversas, seja quando a deusa irrompe no imaginário mitológico ou religioso, seja quando “o luar cai sobre a mata,/ qual uma chuva de prata,/ De raríssimo esplendor”.

    Ainda ontem (20 julho 2019), lembrei em artigo para O Globo o berço provável da expressão que diz ser sortudo quem nasce com o bumbum virado para a lua. Nasce corretamente quem vem ao mundo de ponta-cabeça. Sempre tinha sido indício de sorte nascer de ré, apontando primeiramente o bumbum e ainda assim sobreviver, num tempo em que a mortalidade infantil era estratosférica.

    Mas por que a Lua entrou na expressão? Provavelmente porque, sendo deusa, já era dos namorados e dos casais ainda na concepção, e os partos noturnos, antes da invenção do fogo e mesmo depois, poderiam ter acontecido à luz da Lua ou por ela presididos como entidade divina e protetora, quando as mães se escondiam fora da habitação para ter os filhos. Passaram a tê-los dentro de casa, com as parteiras, e hoje os partos voltaram a ser feitos fora de casa, nas maternidades.

    Continua após a publicidade

    A palavra aborto e o verbo abortar são invocados tantos na gravidez quanto nos voos interrompidos. E se desse errado a viagem à Lua? O então presidente Nixon leria um texto que, entre outras coisas, dizia: “Nos dias antigos, os homens olhavam para as estrelas e viam seus heróis nas constelações. Nos tempos modernos, fazemos o mesmo, mas nossos heróis são homens épicos de carne e osso”.

    Resumindo, ainda que os astronautas não voltassem de lá, a Lua teria sido alcançada por um artefato feito por homens, dos quais dois tinham lá desembarcado para morrer nos braços dela. E o presidente dos EUA que mais fez para que chegassem lá, John Kennedy, não foi aquele que celebrou o êxito da missão.

    O Céu que nos protege ou nos prejudica tem mostrado que as coisas aqui na Terra são assim: nos grandes projetos, o semeador sai a semear a sua semente, mas raramente é ele quem colhe o que plantou.

    *Deonísio da Silva
    Diretor do Instituto da Palavra & Professor
    Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
    https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.