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Augusto Nunes

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A Venezuela continua à espera do socorro que não vem

As imagens de manifestantes sendo espancados tornaram-se parte do cotidiano dos venezuelanos que se opõem a Nicolás Maduro

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h48 - Publicado em 7 ago 2017, 20h07

https://www.youtube.com/watch?v=TMCjIflf3II

Em março de 2014, Mariel, uma jovem venezuelana de longos cabelos castanhos, publicou um vídeo (reproduzido abaixo) que percorreu as redes sociais acompanhado da hashtag #SOSVenezuela. Vestindo camiseta branca e usando um escapulário em volta do pescoço como milhões de meninas da sua idade, ela contava que, desde que iniciaram os protestos contra o governo de Nicolás Maduro, duas semanas antes, mais de 15 pessoas haviam morrido, a maioria vítima da repressão do governo.

“Protestamos, porque estamos cansados das longas filas para comprar leite, açúcar, farinha, papel higiênico”, diz Mariel num trecho do vídeo. “Porque segundo estatísticas, um venezuelano morre a cada 20 minutos. Porque nos matam por um telefone celular. Porque não descobrimos o que está acontecendo com nosso próprio país desde que o governo censurou e fechou a mídia independente. Também protestamos porque estudantes e líderes políticos estão presos só por discordarem do governo”.

Ilustrado por imagens de manifestantes covardemente espancados ou mortos, o filme termina com um apelo. “As autoridades venezuelanas decidiram ignorar nossos clamores. Nós temos esperança de que você não faça o mesmo”, pede Mariel. “Tudo isso acontece sob os olhares cúmplices dos governos da América Latina, que ainda mantêm silêncio. E é por isso que precisamos que o mundo saiba o que está acontecendo na Venezuela”.

Três anos depois, a mesma súplica foi repetida pelo padre Santiago Martín durante o programa Actualidad Comentada, da Magnificat.TV. “Não temos ideia do sofrimento, da falta de liberdade, da falta de segurança e da falta de comida que está passando esse povo e seus mais de 30 milhões de habitantes que estão submetidos a uma ditadura cruel”, afirma. “Se me dói o que se passa dentro do país, me dói quase da mesma forma o que se passa fora: silêncio”.

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O prolongamento desse silêncio fez com que Maduro se sentisse à vontade para convocar uma Assembleia Constituinte que tem como objetivo legalizar uma ditadura mal-disfarçada. Fez com que Leopoldo Lopez, Antonio Ledezma e outros políticos contrários ao governo permanecessem incomunicáveis por vários dias ao serem levados para um presídio militar na semana passada. Fez com que a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, também considerada uma opositora de Maduro, fosse destituída do cargo e, em seu lugar, nomeado o aliado Tarek William Saab.

O mesmo silêncio que faz com que imagens como a do vídeo acima sejam parte do cotidiano dos venezuelanos. Nele, um manifestante caído no chão é surrado por policiais, que o arrastam pelos cabelos e se revezam no espancamento até que um deles se encarregue do desfecho brutal: dispara à queima-roupa um tiro na perna do inimigo. Não foi o primeiro. Nem será o último.

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