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Celso Arnaldo Araújo: Se até hoje leu alguma coisa, Dilma certamente não absorveu nadica de nada

O autor de 'Dilmês - O Idioma da Mulher Sapiens' analisa o livro que nunca será escrito

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h26 - Publicado em 2 nov 2016, 10h03
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    A mesma Natuza Nery que noticiou hoje o nascimento de Agatha Rousseff e seu misterioso dilmês ─ a linguagem assassina serial de ideias e raciocínios ─ revelou ao mundo, em maio de 2013, a transformação da presidenta na comandanta Dilma, quando a bordo do AeroLula. Numa matéria apoteótica publicada na Folha em maio de 2013, Natuza revelou que a presidenta comandava o Airbus da Presidência por meio de seus vastos conhecimentos de mapas aeronáuticos. Segundo a jornalista, como Dilma detesta turbulências, ela orientava o comandante da aeronave presidencial, um brigadeiro, a voar em céu de…brigadeiro. Mudava rotas e altitudes para não deslocar um milímetro do seu laquê. “Ela detesta quando o avião presidencial sacode em pleno ar”, escreveu então a repórter, num simulacro do idioma de sua personagem, sem explicar se seria possível o Airbus sacudir em pleno chão.

    Pois bem, na matéria de hoje, Natuza resgata a mistificação da mídia que, um dia, fez de Dilma uma leitora voraz, uma scholar compenetrada, uma colecionadora de arte que acondicionava sua pinacoteca virtual num pendrive ─ a primeira “penacoteca” do mundo. Entrevistando a senhora em seu apartamento de Porto Alegre, a jornalista tem acesso à vasta biblioteca da mulher que criou um idioma só para si. A repórter se impressiona com duas estantes, repletas de livros ─ e então ficamos sabendo que, além da mandioca, Dilma continua saudando a literatura que finge conhecer. “Eu queria muito escrever um romance policial. Gosto muito. Li muito” – disse a ex que dizia que, quando criança, hesitava entre o Corpo de Bombeiros e o Corpo de Baile do Theatro Municipal.

    A propósito de que Dilma escreveria, se soubesse escrever, um romance policial? Evidentemente, Dilma nunca o escreverá ─ como jamais escreveu nada, além de broncas iletradas em ministras cujo nome ela rebatizou a seu modo. E, se até hoje leu alguma coisa, Dilma certamente não absorveu nadica de nada ─ o que é raro num ser humano alfabetizado. A existência de uma devoradora de livros semi-analfabeta seria um enigma para os detetives Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Maigret tentarem desvendar juntos – antes que a elementar Agatha Rousseff se torne concorrente deles.

    Ainda do papo de Natuza Nery com Dilma: além da incomensurável, da chocante, da crescente pequenez existencial e mental da ex-presidente acidental, que da conversa resulta numa dona de casa assustadoramente medíocre para quem comandou o Palácio do Planalto, me chamou a atenção o trecho da matéria em que ela diz ter desenvolvido LER nos punhos por andar de bicicleta. Perdoem minha ignorância de não-ciclista (um dos únicos do país, presumo): segurar o guidão imóvel dá lesão de esforço repetitivo? O esforço repetitivo maior de um ciclista não é nas pernas? De qualquer modo, não deixa de ser uma metáfora cruel do impeachment: Dilma caiu pelas pedaladas assinadas com o punho.

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