Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Celso Arnaldo: depois da performance de Ana de Hollanda e Romero Britto, o Ministério da Cultura deveria ser lacrado

Por Celso Arnaldo Araújo Dos 37 ministérios do governo Dilma (quatro órgãos e oito secretarias com status de ministério e 25 ministérios propriamente ditos), pelo menos 10 não serão sequer notados ao longo de quatro anos, seja pela insignificância da pasta ou de seu titular 196 ─ a menos que um ou outro, entre notórios […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 12h42 - Publicado em 27 fev 2011, 16h06

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=mBzChJLWwLo?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&feature=related&w=425&h=344%5D

Por Celso Arnaldo Araújo

Dos 37 ministérios do governo Dilma (quatro órgãos e oito secretarias com status de ministério e 25 ministérios propriamente ditos), pelo menos 10 não serão sequer notados ao longo de quatro anos, seja pela insignificância da pasta ou de seu titular 196 ─ a menos que um ou outro, entre notórios pintas bravas, coloque as manguinhas de fora e os mangotes pra dentro.

O Ministério da Cultura – desmembrado do da Educação em 1985 por iniciativa do então recém-empossado presidente Sarney, o acadêmico Sarney – deveria estar na cota dos que precisam mostrar serviço, quando nada pela nobreza de seu objeto.

Está certo que, ao longo desses 25 anos, a pasta foi ocupada por inexpressividades culturais como José Aparecido de Oliveira, Aluisio Pimenta, Hugo Napoleão e Juca Ferreira – nomes de indicação política intercalados com intelectuais de nomeada, mas muito pouco à vontade na administração pública, como Celso Furtado, Antonio Houaiss, Sergio Paulo Rouanet e Francisco Weffort.

Continua após a publicidade

Fazendo um balanço de suas Bodas de Prata, o Ministério da Cultura quase sempre foi uma miragem de boas intenções e muitas visões distorcidas, como é próprio das miragens. Poderíamos, sim, ter vivido sem ele todo esse tempo – a cultura erudita ou comercial sobreviveria através de seus mecenas naturais; a popular, de raiz, pela espontaneidade das manifestações da terra.

Mas a presidente Dilma não tem sido apresentada como contraponto à tronchisse de seu mentor Lula? Como a devoradora de livros, artes plásticas, Bach e Mozart? Ao aceitar de bom grado essa pecha de refinamento – que os frequentadores desta coluna sabem ser tão falsa quanto a nova cabeleira do Eike Batista – ela estaria obrigada a fazer do Ministério da Cultura, pelo menos na aparência, um dos pontos de honra de seu governo. E o que fez Dilma? A resposta inequívoca, sem margem a dúvidas ou interpretações, está neste vídeo estarrecedor. A ministra da Cultura de Dilma, Ana de Hollanda, é apenas a metade de um sobrenome ilustre. Seria essa sua única credencial para o posto? Tudo indica.

No começo do ano, em homenagem a Dilma Rousseff, o “artista pop brasileiro” Romero Britto, há anos radicado nos Estados Unidos, onde realiza trottoir permanente pelo universo das celebridades, fez um retrato da presidente – naquele estilo “meio Andy Warhol/meio Picasso depois de um estágio no ateliê de José Antonio da Silva”. E comprou uma página inteira no New York Times para anunciar o feito e bajular Dilma.

Continua após a publicidade

Há duas semanas, em audiência no Palácio do Planalto, acompanhado pela ministra Ana, o cubista pop levou o presente à presidente Dilma – como costuma fazer, em sua bem-sucedida estratégia de marketing, quando pinta poderosos: entrega em domicílio, sob holofotes. Na saída, abordados pelos jornalistas, Romero e a ministra protagonizaram um momento que, num país sério, causaria o lacramento do Ministério.

O vídeo começa – sem fala, para não ser ainda mais estupefaciente – com retratista e retratada posando (ou pousando, diria Emir Sader) ao lado do retrato. De início uma confirmação: os críticos dizem que todos os retratos feitos por Romero Britto – de Madonna ao Príncipe Charles – parecem-se com…Romero Britto. De fato, ele e o retrato de Dilma foram separados ao nascer. E agora reunidos com a própria Dilma. Mas o vídeo se torna um documento histórico – prova da seriedade que Dilma Rousseff pretende emprestar à Cultura em seu governo – quando entram em cena, aos 26 segundos, a ministra e o artista. Ele, num terno marca-texto e sapatos caneta Pilot. Ela, bem, ela é a irmã do Chico – até a bolsa descomunal, completamente fora de mão, deve ter seus fãs.

Talvez por incultura minha, não sabia da existência de Ana Buarque de Hollanda até sua indicação para o ministério – portanto nunca a tinha ouvido falar. Parece que fazia carreira como cantora e professora de música. Leio em seu currículo que, ano após ano, ministra oficinas, sempre sobre o mesmo tema: “O Cantor e a Segurança Interpretativa na Música Popular”.

Continua após a publicidade

Com base neste vídeo, a oficina “A Ministra e a Segurança Expositiva no Governo Dilma”, ministrada por Ana de Hollanda, é um retumbante fracasso. Ela explica aos repórteres o que Romero foi fazer no gabinete de Dilma:

“Uma audiência com a presidenta, é, vocês até fotografaram, é, deu um presente maravilhoso para ela, um retrato lindo”, explica a ministra, 62 anos mas carinha de menina encabulada encarregada de fazer a apresentação do trabalho da turma, naquela sem-jeitice que se confunde facilmente com despreparo, descrevendo para a imprensa o que, como ela mesmo diz, todos tinham acabado de ver e fotografar. Prossegue, ainda fora de prumo:

“Nossa presidenta ela conheceu seu trabalho no Hospital da Mulher, né Romero, ficou encantada. Tava contando isso, e aí ele apresentou várias propostas de trabalho, e eu vou deixá o Romero contá, acho que foi um assunto direto com ele, mas eu sou testemunha de que ela ficou apaixonada, o trabalho dele é muito alegre, muito colorido, muito, algumas marcas que são muito a cara do Brasil, essa coisa jovem, essa coisa cheia de energia, cheia de ideia, cheia de colorido, e umas ideias muito boas que ela gostou demais, né Romero? Então fala aí para eles”.

Continua após a publicidade

Então, a ministra da Cultura, que se expressa como a ginasiana que se senta no fundo da sala para não ser notada pelo professor, se recolhe e se encolhe, deixando restos de um sorriso que teima nervosamente em permanecer onde já não cabe.

Mas antes que Romero “fale aí pra eles” – hello: num estranhíssimo sotaque luso-americano para um pernambucano da gema – talvez fosse o caso de esclarecer o que seriam essas “várias propostas de trabalho” e “umas ideias muito boas” que a presidenta (arghh) gostou demais.

Romero gostaria de uma boquinha no Planalto como retratista oficial, uma espécie de Velázquez de Filipe IV na corte de Dilma I? Para tentar descobrir a verdadeira intenção do retrato de Dilma, eu precisaria ter assistido ao restante do vídeo – tarefa de que abro mão gostosamente, repassando-a aos pacientes colaboradores

Continua após a publicidade

Mas, pensando bem, nenhuma surpresa: Dilma Rousseff tem uma ministra da Cultura à sua altura.

E pensando o pior: no fundo, quem transformou Ana de Hollanda em ministra de Estado foi José Sarney, em 1985…

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.