Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Deonísio da Silva: Em tempo de murici, cada um cuida de si

O arbusto sempre florido e depois carregado de frutos, mesmo na pior seca, tendo inspirado o povo a criar o dito que expressa a dureza da vida sertaneja

Por Augusto Nunes Atualizado em 4 jun 2024, 18h55 - Publicado em 12 mar 2017, 11h21
  • Seguir materia Seguindo materia
  • deonisio
    ()

    Esta frase é muito conhecida dos brasileiros de boas leituras e especialmente dos nordestinos. A expressão foi registrada por ninguém menos do que Euclides de Cunha no seu livro famoso Os Sertões, referência solar de nossas letras.

    Quem ainda não o leu, que não se considere completamente alfabetizado, adverte o jornalista Augusto Nunes, filho de professora e conhecido cultor de bons autores e respectivos livros, em palestras a universitários de jornalismo e áreas de domínio conexo, ao indicar bons caminhos para melhorar a escrita.

    O engenheiro, jornalista e escritor Euclides da Cunha registrou o provérbio, já então conhecido dos nordestinos, quando pronunciado pelo coronel Pedro Nunes Tamarindo, que o proferiu para renunciar à sucessão do coronel Antônio Moreira César, chefe da expedição de Canudos, morto no celebérrimo confronto entre o Exército Brasileiro e os pobres liderados por Antônio Conselheiro, entre 1896 e 1897,  no interior da Bahia.

    Tão logo os jagunços emboscaram e mataram o comandante Moreira César, o militar que deveria assumir o comando da tropa declinou do cargo honroso e fugiu apavorado, recorrendo à metáfora da frutinha do muricizeiro. Em tempo de murici, cada um cuida de si, repetiu Pedro Nunes Tamarindo, cujo sobrenome também é nome de fruta. Tamarindo veio do Árabe tamr hindi , tâmara da Índia.

    Continua após a publicidade

    O arbusto frutífero permanece sempre bonito, florido e depois carregado de frutos, mesmo na pior seca, tendo inspirado o povo a criar o dito que expressa a dureza da vida sertaneja. Quando apenas a frutinha murici sobrevive, é tempo de cada um cuidar de si,  uma vez que, se só sobrou o murici, a coisa está feia. Quem se inspira no murici, não o faz por egoísmo, mas por necessidade, como o sapo, que pula por precisão, não por boniteza, como lembrou outro grande escritor, o mineiro João Guimarães Rosa, que, aliás, mostrou também que poucas pessoas inteligentes têm a sabedoria de um burro como o burrinho pedrês.

    Moreira César se considerava muito esperto. Em Florianópolis, mandou executar centenas de pessoas, depois de ter prometido anistia aos revoltosos, se depusessem as armas. Eles se entregaram e ele mandou enforcar a todos na Fortaleza de Anhatomirim, em Florianópolis (SC), por ocasião da Revolução Federalista (1893-1895).

    Entre os rebeldes estava o médico baiano Alfredo Paulo de Freitas, que servia na então Ilha do Desterro com a patente de major, quando Moreira César recebeu a esposa do militar. A mãe angustiada se fazia acompanhar de um filho do casal.

    Continua após a publicidade

    Moreira César era cínico, frio e calculista, tão como seu chefe máximo, o marechal Floriano Peixoto, que acabou por dar nome à Ilha, cujo nome bonito e triste, “Ilha do Desterro”, foi substituído por Florianópolis, cidade de Floriano (Peixoto), segundo os compostos gregos que vieram parar no Português. Na ocasião, ele tomou a criança no colo e disse: “Papai está bem longe, mas voltará logo”. Como, se ele já tinha mandado matar o pai da criança?

    O indigitado pai só voltaria logo se o Juízo Final se desse brevemente, mas este só aconteceu para Moreira César, que sofreu justiça pelas linhas tortas do destino, no conflito seguinte, em Canudos (BA). E assim os jagunços de Antônio Conselheiro, movidos por um líder messiânico e carismático, acabaram por vingar os catarinenses.

    Em Santa Catarina não havia murici para cada um cuidar de si.

    Confira aqui outros textos de Deonísio da Silva

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.