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Augusto Nunes

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Deonísio da Silva: Morreu um grande ministro do MEC

Jarbas Passarinho não foi o demônio que agora começam a pintar. Não foi deus. Foi um brasileiro graças ao qual muitos outros brasileiros puderam ser alfabetizados

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h33 - Publicado em 8 jun 2016, 14h45
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  • Discordo de quem avalia a vida inteira de um homem por um episódio de sua biografia, um único. Ou por poucos. Deve-se olhar o conjunto da obra.

    Pelé perdeu gols feitos. Foi um perna de pau? Não foi, então, o rei do futebol?

    Mas vejamos como as esquerdas avaliam os desafetos, adversários ou inimigos. Sim, as esquerdas, no plural, pois, ao contrário da direita, que é una, elas são muitas e só se unem na cadeia, às vezes dividindo a mesma cela.

    Tão logo o PT chegou ao poder federal, aos poucos alguns setores e por fim as correntes hegemônicas do partido, imitaram sem querer um general platino que disse ser o seguinte o seu plano: eliminar a todos! Primeiro, os inimigos; depois, os simpatizantes; e, por fim, os indiferentes.

    Pois assim passaram a proceder, até mesmo em universidades e prefeituras. Pessoas altamente qualificadas foram postas de lado para que verdadeiros repolhos assumissem cargos importantes. Aliás, sobretudo nas áreas da educação e da cultura.

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    Mas, o que é mais grave é o juízo que certas esquerdas fazem dos discordantes, sem poupar sequer os mortos, contrariando o sábio provérbio da Roma antiga que recomendava: de mortuis nihil nisi bonum (dos mortos, nada, a não ser o que foi bom). É verdade que o adaptaram para as personalidades de suas hostes. Para eles, omnium bonum, nisi malum (tudo o que é bom, nenhum mal).

    Fizeram assim com Che Guevara, cujo rosto está estampado no peito de milhões de pessoas mundo afora. Ora, o argentino executou milhares de cubanos no paredão. Às vezes, pessoalmente. E recebeu perdão universal por ter morrido lutando por pobres que queria libertar, mas que o entregaram aos que o perseguiam no interior da Bolívia. Nas mãos de assassinos como ele, morreu executado, como fizera com aqueles que vencera em Cuba.

    Passam-se os anos e vejamos o que estão dizendo de Jarbas Passarinho, que acabou de falecer. Sim, ele assinou o AI-5. Delfim Netto também. Mas Delfim, assim como Paulo Maluf, foram procurados pelo PT como conselheiros. Que conselhos o partido esperava?

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    Jarbas Passarinho não armou um esquema de corrupção para comprar os adversários no Congresso. Não desviou verbas do Mensalão, Petrolão, Eletrolão e quantos outros escândalos que, por enormes, receberam o aumentativo da única língua do ão, que é o nosso Português.

    As esquerdas perdoaram Delfim Netto, mas deram pena perpétua, inclusive para além da morte, para Jarbas Passarinho, a favor da anistia de esquerdistas, que era coronel do Exército quando foi ministro da Educação e Cultura nos anos 70.

    Um dos feitos mais relevantes de sua gestão foi autorizar cursos superiores de férias, de forma intensiva, para qualificar professores do ensino médio. Com a mesma carga horária de um curso diário, estes alunos estudavam em janeiro, fevereiro, julho e dezembro, em tempo integral. E prosseguiam o curso uma semana em maio e outra em outubro. No resto do ano, ensinavam no ensino médio, em tempo integral também. Seu duplo ofício era trabalhar e estudar. Trabalhar para poder estudar. E estudar para poder trabalhar.

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    Este escritor e professor fez o curso de Letras nesta modalidade, morando e trabalhando no Paraná e estudando no Rio Grande do Sul. Mais tarde, lecionou nestes cursos muitas vezes. Os resultados eram extraordinários. E os professores foram qualificados.

    Reitere-se que, morto o homem, é hora deste escritor e professor dizer como os antigos romanos ao seu colega de colunas no Jornal do Brasil quando o grande periódico era dirigido por Augusto Nunes: “de mortuis nihil nisi bonum”. (De mortos, nada, a não ser o que é bom).

    Não há ressalvas a fazer a Jarbas Passarinho? Certamente as há e muitas. Mas, quando o poder trocou de mãos, passando de militares a civis outra vez, todos puderam discordar dele, no Congresso sobretudo, e também em muitos outros lugares onde tornava públicas suas ideias. Na mídia, principalmente. Mas poucos o fizeram! Na verdade, poucos se atreveram. Ele era um ás no parlamento como no texto dos artigos.

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    Quanto a este escritor, ele jamais se arrependerá de batalhar pela conversa clara e pelo trato justo. Jarbas Passarinho não foi o demônio que agora começam a pintar. Não foi deus. Foi um brasileiro graças ao qual muitos outros brasileiros puderam ser alfabetizados, como já reconheceu Marina Silva, e outros tantos que tiveram a chance única de fazer curso superior em instituições de boa qualidade, em períodos intensivos, pagando as mensalidades do curso enquanto ganhavam seus salários como professores suplementaristas no ensino médio.

    Ainda hoje este escritor e professor considera este sistema muito mais eficiente e mais digno do que várias iniciativas que a eles se seguiram. Por quê? Porque não eram vistos como esmola. Eram vistos como uma forma de fazer com que estudantes que trabalhavam fossem vistos como eles eram: trabalhadores que estudavam. E o ministro Jarbas Passarinho logrou, pelo menos, este êxito.

    Testemunha auricular e ocular desta história, este professor e escritor não vai negar este mérito dele nunca. E quem profere este juízo é alguém que foi preso e condenado a dois anos por crime de opinião como contista. Quem o prendeu? Aqueles contra os quais, dentro do governo epocal, Jarbas Passarinho também os combateu.

    E quem escreve este artigo não o faz em blogs pagos pelo governo. Defende sua opinião com liberdade, como sempre tem feito. Sempre será livre para apoiar ou endossar o que quiser, segundo sua consciência, seu único juiz!

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