Ao debater os rumos do partido depois da devastadora derrota eleitoral que lhe custou a perda de 379 (60%) das 635 prefeituras que comandava em todo o País, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) chegou à conclusão de que a culpa pelo desastre deve ser debitada ao fato de que “há um Estado de exceção em andamento” e nesse contexto “o aprofundamento da crise econômica, a criminalização do PT e a ação corrosiva da mídia monopolizada erodiram a base eleitoral progressista”. Em resumo, o PT e os petistas são apenas vítimas e não responsáveis pelo retumbante fracasso.
O PT insiste em se apresentar como vítima daqueles que não querem o bem do País, ignorando o fato de que o “massacre” – nas palavras de seu presidente, Rui Falcão – que resultou em sua derrota nas urnas não é a causa, mas a consequência dos seus próprios erros e contradições reiterados ao longo dos 13 anos em que permaneceu no poder.
Para o secretário nacional de assuntos institucionais do partido, deputado federal Reginaldo Lopes – que ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte –, “os valores que o PT defende estão cada vez mais vivos na sociedade”, mas “há uma criminalização do PT, da marca, não do nosso conteúdo”. A dar crédito a essa singular interpretação dos fatos, a conclusão é de que os petistas têm sido extremamente incompetentes na defesa do tal “conteúdo”.
A tentativa dos dirigentes petistas de explicar a acachapante derrota eleitoral reúne argumentos que não param em pé. Para começar, o de que “há um estado de exceção em andamento no País”. Pela ótica petista, são duas as evidências dessa anomalia: o impeachment de Dilma Rousseff e a “perseguição” ao PT pela Operação Lava Jato. A cassação da ex-presidente foi resultado de um processo jurídico e político de cujos fundamentos os petistas até podem discordar, mas que foram plenamente avalizados pelos Poderes Judiciário e Legislativo. De resto, a manifestação das urnas legitima politicamente o impeachment e confirma o repúdio dos brasileiros ao desempenho do partido à frente do governo.
Quanto à Lava Jato, fala por si a coincidência de que no mesmo dia em que a Executiva se reunia, Lula era mais uma vez indiciado pela PF, agora por suspeita de favorecimento da Odebrecht em transações no exterior em que teria sido beneficiado também um contraparente seu. Não por coincidência, o mensalão, o petrolão e traficâncias congêneres ocorreram durante os governos petistas. Daí a “perseguição” a figuras do partido.
Outra desculpa, maliciosa, é “o aprofundamento da crise econômica”. Este é um problema de total responsabilidade da desastrada administração petista. É ridícula, pois, a insinuação de que o PT foi prejudicado nas urnas por uma crise pela qual o culpado é o “governo usurpador” de Temer.
Quanto à “criminalização do PT”, é decorrência natural do fato de o lulopetismo ter estabelecido a divisão do País entre “nós” e “eles”, sendo estes últimos todos aqueles que não idolatram Lula nem estão dispostos a comprar os lotes que o PT oferece na Lua. Quando tudo está dando errado, “nós” somos vítimas. Quando dava tudo certo, “nós” éramos heróis.
Não poderia faltar no tiroteio petista a referência à “ação corrosiva da mídia monopolizada”. O monopólio em questão tem conotação política e se refere ao fato de que predomina na mídia uma postura crítica ao populismo irresponsável do PT. Do ponto de vista econômico, é impossível sequer imaginar a configuração de monopólio nessa área. “Monopólio” político, de qualquer modo, é um termo mais adequado para definir aquilo que o PT armou com o aparelhamento de uma ampla estrutura estatal de comunicação que foi sempre muito mais eficiente na generosa distribuição de prebendas a apaniguados do lulopetismo do que na produção de conteúdos dignos de índices mínimos de audiência.
Olívio Dutra, petista histórico, diverge da Executiva Nacional e com razão: “O PT tem de levar uma lambada forte mesmo, porque errou seriamente”