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Editorial do Estadão: A honestidade de Dilma

Os depoimentos prestados pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura são suficientes para lançar dúvida sobre a propalada biografia da ex-presidente

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h52 - Publicado em 22 Maio 2017, 15h11

Dilma Rousseff foi um desastre na Presidência da República, em todos os sentidos. Embora houvesse suficientes provas dos crimes de responsabilidade que justificaram plenamente seu impeachment, o fato é que a petista foi afastada igualmente porque levou o País para o brejo. Restou à inepta administradora ao menos tentar salvar algumas linhas de sua biografia ao protestar inocência diante do mar de lama que engolfou seu governo. Para isso, Dilma passou a tratar como ofensa capital qualquer suspeita a respeito de sua honestidade, como se o País tivesse simplesmente que aceitar que a petista, por definição e natureza, jamais poderia ter participado ou se beneficiado pessoalmente dos crimes em série praticados por seu partido no coração de sua administração. No entanto, os depoimentos prestados pelos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, ainda que careçam de confirmação, são suficientes para pelo menos lançar alguma dúvida sobre a propalada honestidade de Dilma.

O casal João Santana e Mônica Moura foi o responsável pelo marketing eleitoral das campanhas presidenciais de Lula da Silva em 2006 e de Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Eles foram presos em fevereiro do ano passado sob acusação de receber dinheiro do petrolão para quitar seus serviços publicitários. Já condenados em primeira instância pelo juiz federal Sérgio Moro, João Santana e Mônica Moura decidiram fazer acordo de delação premiada. Além disso, prestaram depoimento à Justiça Eleitoral, que analisa denúncias contra a chapa vencedora da eleição presidencial de 2014. Foi nesses testemunhos que o nome de Dilma surgiu, não como inocente vítima das negociatas, mas como cúmplice.

Tanto João Santana como Mônica Moura disseram que a ex-presidente sabia sobre o uso de caixa 2 para pagar as contas de campanha. Santana disse que Dilma foi acometida de “amnésia moral”, isto é, evitava deliberadamente tomar conhecimento dos detalhes das transações para, assim, dizer que não sabia de nada. No entanto, segundo Mônica Moura, Dilma tinha “pleno conhecimento” da atuação da empreiteira Odebrecht para pagar os serviços de marketing eleitoral. João Santana relatou um encontro com Dilma no Palácio da Alvorada em 2014 no qual a então presidente disse que “os valores que seriam pagos por fora já estavam garantidos”.

Somente o fato de os principais assessores eleitorais de Dilma a acusarem de ter conhecimento do uso de recursos não declarados na campanha de 2014 já seria suficiente para abalar as certezas a respeito da honestidade da ex-presidente. Mas há mais. Em seu depoimento, Mônica Moura disse que Dilma telefonou para João Santana para avisar, em fevereiro do ano passado, que havia um mandado de prisão contra o casal. Tal iniciativa, se confirmada, configura tentativa de obstruir a Justiça.

Além disso, Mônica Moura disse que ela e Dilma criaram um e-mail com nome e dados fictícios, cuja senha foi compartilhada por ambas, para conversar em segurança – as mensagens ficavam na caixa de rascunho do e-mail, acessíveis apenas às duas. Segundo Mônica Moura, o e-mail foi criado no computador da então presidente. O estratagema é comum em organizações criminosas.

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Dilma nega categoricamente todas essas informações, mas não se limita a isso. Ela diz que o casal de marqueteiros foi “induzido a delatar fatos inexistentes, com o objetivo de ganhar sua liberdade”. E afirma que é vítima de um “jornalismo de guerra”, que, segundo ela, promove “verdadeiros linchamentos, tentando destruir a biografia e a imagem de cidadãos e cidadãs”.

A preocupação de Dilma, portanto, é com sua biografia. Durante o processo de impeachment, a então presidente fez chegar ao Senado um “depoimento pessoal” no qual escreveu: “Saibam todos que vocês estão julgando uma mulher honesta”. Agora, mais uma vez, Dilma reafirma sua honestidade como um princípio que só é questionado por quem, segundo ela, não tem apreço pela democracia.

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