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Editorial do Estadão: Lula e seu partido dividido

O Grande Líder se esforça para manter a unidade do PT

Por Augusto Nunes 12 jun 2017, 14h06
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  • O PT encerrou seu 6.° Congresso Nacional sem oferecer praticamente nenhuma grande novidade ao distinto público de convertidos à fé inabalável nos superpoderes de Lula da Silva, que, pessoalmente, parece ser a única unanimidade – ou quase – dentro do partido. Como de hábito, foi eleito para presidir a legenda o nome imposto pelo Grande Líder: a senadora Gleisi Hoffmann. Mas a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), liderada por Lula e antes amplamente majoritária no Diretório Nacional, só conseguiu ocupar metade das 90 cadeiras em disputa, assim mesmo porque fez uma composição com a corrente O Trabalho. Já em matéria de “conteúdos”, nada mudou no Congresso. Repetiram-se as mesmas ideias de sempre – que resultaram na atual crise econômica, política, social e moral do País – embaladas nas também habituais frases feitas da demagogia populista em que Lula é insuperável, como demonstrou no discurso de abertura do encontro: “Essa elite não sabe resolver os problemas do País. Nós provamos que sabemos. Já fizemos e vamos fazer outra vez. A gente vai voltar a governar este país a partir de 2018”.

    É óbvio que Lula se valeu do congresso para tentar, com as frases feitas em que é especialista, levantar o moral e recuperar a autoestima da companheirada, relembrando o passado de lutas “em defesa dos pobres” – expressão que repetiu insistentemente em seus discursos – e as “grandes conquistas” dos governos petistas, todas elas grandiosas e inéditas “como nunca antes na história deste país”. A preocupação de Lula em manter a unidade do PT ficou demonstrada, ao longo dos três dias de encontro, pela clara manifestação de alguns sintomas.

    O mais evidente deles foi a insistência com que, em seu discurso na abertura do congresso, Lula recomendou mais de uma vez que o debate de teses e propostas se desenvolvesse no sentido de unir e não de dividir a militância, uma vez que “lá fora são inimigos de classe que querem nos destruir e nós precisamos estar preparados para derrotá-los”. Mas as divergências internas se manifestaram, de forma mais contundente do que nunca, com a reviravolta que acabou com a ampla hegemonia interna da Construindo um Novo Brasil. Embora Lula ainda seja o maior líder do partido, seu prestígio pessoal não se transfere na mesma medida para a CNB.

    A disputa interna por cargos de direção foi tão acirrada que para acomodar todas as tendências foi necessário aumentar o número de vagas tanto do Diretório, de 82 para 90, como da Executiva Nacional, de 18 para 26. Até mesmo a eleição de Gleisi Hoffmann, em substituição a Rui Falcão, que ficou seis anos na presidência nacional do partido, se deu com uma votação consideravelmente menor do que fazia prever o fato de Lula tê-la escolhido para o cargo e conchavado sua candidatura com os líderes de todas as demais correntes partidárias. Gleisi teve 62% dos votos, contra 38%, mais do que um terço do total, atribuídos a Lindbergh Farias, apoiado pelas correntes de esquerda.

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    Lula está claramente preocupado em manter sob controle os esquerdistas de um partido com raízes fortemente plantadas no pragmatismo do movimento sindical. Está convencido de que suas pretensões eleitorais terão que estar escoradas no discurso de esquerda, para obter o apoio dos estratos menos favorecidos da população. Não por acaso, discursando no congresso petista, defendeu enfaticamente a política externa de seu governo, definindo-a como “anticapitalista” e defensora da “solidariedade humana”.

    Lula teve ainda uma palavra para “tranquilizar” seus correligionários quanto aos “problemas” que está tendo com a Lava Jato. Garantiu que ao depor perante o juiz Sérgio Moro comprovou sua “inocência” e agora espera que os promotores “apresentem provas” das acusações que fazem. E sentenciou: “Está na hora de acabar com essa palhaçada neste país”. É o que os brasileiros esperam.

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