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Augusto Nunes

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Especial VEJA: Maria Thereza Goulart, a bela silenciosa

Publicado na edição impressa de VEJA Uma saia de couro, um blazer, um conjunto, duas camisas de seda. No corpo, um tailleur. Essa foi provavelmente a mais chique bagagem de exílio da longa história de golpes latino-americanos, arrebanhada às pressas por Maria Thereza Goulart na Granja do Torto, em Brasília. “Você aguarda aí que alguém […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h04 - Publicado em 10 abr 2014, 08h19

Publicado na edição impressa de VEJA

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Uma saia de couro, um blazer, um conjunto, duas camisas de seda. No corpo, um tailleur. Essa foi provavelmente a mais chique bagagem de exílio da longa história de golpes latino-americanos, arrebanhada às pressas por Maria Thereza Goulart na Granja do Torto, em Brasília. “Você aguarda aí que alguém vai entrar em contato contigo. Eu estou aqui no Palácio Laranjeiras, ainda não sei bem o que fazer”, havia dito o marido na manhã de 1º de abril. Ainda meio perdido, ele seguiu depois para Brasília.

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Quase todos à volta da primeira-dama já tinham se desmanchado no ar, exceto o cabeleireiro, que insistiu em ficar com ela. Jango e a mulher saíram em aviões separados e com o mesmo destino final: o exílio no Uruguai. Maria Thereza tinha 23 anos, dois filhos e, como se dizia na época, um gênio difícil. Tinha uma reputação, também, decorrente das brigas com o marido e da beleza celebrada no número de 8 de junho de 1962 da revista Time, no qual apareceu numa lista de esposas de homens famosos que incluía Grace Kelly, já princesa de Mônaco, e Jacqueline Kennedy.

O costureiro Dener fazia com Maria Thereza o que Oleg Cassini havia feito por Jackie: rejuvenesceu a imagem da primeira-dama com roupas modernas e sofisticadas, inspiradas nos grandes nomes de Paris. Também lhe deu um conselho imortal para enfrentar a timidez ao entrar em lugares estranhos: “Faz de conta que não tem ninguém, você entra e pensa que é a personagem principal da festa”. Na verdade, ela era uma coadjuvante de luxo, quase sempre silenciosa.

Boatos sórdidos eram alimentados pelo clima político incendiário e pelos 21 anos de diferença de idade entre ela e o marido. No começo do casamento, trancada numa fazenda em São Borja, onde os empregados de origem guarani não falavam com ela, tinha tentado se suicidar. Jango cuidou dela, levou-a para o Rio e continuou as aventuras na noite. A célebre coleção de Mary Quant que projetou a minissaia de Londres para o mundo foi lançada três dias antes do fatídico comício de 13 de março da Central do Brasil, visto com unanimidade como a ruptura final que desaguou no golpe.

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Com uma elegante roupa azul ainda quase abaixo dos joelhos, coque bem armado e um pavor de multidões, Maria Thereza subiu ao palanque morrendo de medo. O congelado e hierático perfil que aparece em fotos da época era uma máscara para esconder emoções. “Foi tudo muito tenso, Jango não estava bem de saúde, teve uma queda de pressão, e já havia aquele clima horrível”, descreveu ela no ano passado, antes da exumação dos restos mortais do marido. “Ali já era o final.” Era mesmo.

Colaboradores: André Petry, Augusto Nunes, Carlos Graieb, Diogo Schelp, Duda Teixeira, Eurípedes Alcântara, Fábio Altman, Giuliano Guandalini, Jerônimo Teixeira, Juliana Linhares, Leslie Lestão, Otávio Cabral, Pedro Dias, Rinaldo Gama, Thaís Oyama e Vilma Gryzinski.

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