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Augusto Nunes

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Merval Pereira: O que fará a diferença?

O raciocínio político oficial de governistas e oposicionistas ainda trabalha com a ideia de que, no final das contas, prevalecerá a estrutura partidária

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h40 - Publicado em 29 nov 2017, 11h54

Publicado no Globo

A questão central dessa campanha presidencial que já começou não é se Lula será ou não candidato, embora essa seja uma premissa fundamental. O que ninguém sabe é o que prevalecerá, se as máquinas partidárias e suas conseqüências, como alianças partidárias e tempo de propaganda eleitoral, ou a repulsa, cada vez mais sentida, do cidadão comum aos partidos e políticos tradicionais, e a busca de um novo perfil de candidatos.

Mesmo que as pesquisas de opinião mostrem que o eleitorado rejeita a política tradicional, o raciocínio político oficial de governistas e oposicionistas ainda trabalha com a ideia de que, no final das contas, prevalecerá a estrutura partidária. Por isso as coligações eleitorais, mesmo as mais absurdas, continuam sendo o objetivo central de seus candidatos.

O único candidato bem posicionado nas pesquisas que parece não ligar para as estruturas formais é Jair Bolsonaro, que nem mesmo partido tem. Lula já prometeu “perdoar os golpistas” para abrir espaço para alianças regionais com políticos com projetos de poder apartidários, com homogeneidade moral semelhante a Renan Calheiros e congêneres.

A resiliência da popularidade do ex-presidente, e a máquina petista, dariam as possibilidades reais de competitividade, embora na eleição municipal de 2016 o PT tenha perdido 60% das prefeituras em relação à eleição anterior. Mas a ameaça concreta de o ex-presidente ser impedido pela Justiça de disputar a eleição está fazendo com que partidos tradicionalmente aliados ao PT busquem soluções próprias.

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O PCdoB já lançou a deputada Manuela D’Avila, e o PDT tem em Ciro Gomes seu candidato. A base governista tenta armar uma candidatura que reúna o maior número de partidos possível para defender um projeto de governo de continuidade, jogando na possibilidade de que a melhora da economia chegue às vésperas da eleição no ano que vem se refletindo no bolso do cidadão comum.

O PSDB, de seu lado, tenta reunir seus cacos em torno do governador de São Paulo Geraldo Alckmin com uma certeza: a máquina partidária tucana, se for unida para a eleição, é das mais fortes, tendo crescido consideravelmente nas eleições municipais de 2016. Além de dominar São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a capilaridade partidária, que atualmente só perde para o PMDB, seria um trunfo.

O que está difícil é montar alianças eleitorais, pois o PSB, que deu o vice em São Paulo como parte de um acerto eleitoral para apoiar Alckmin à presidência, resiste a concretizá-lo, tendo o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa como alternativa e, caso mais este outsider desista de entrar na disputa, parte dos socialistas quer apoiar Lula.

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O PPS, sem a opção do Luciano Huck, deve apoiar Alckmin, e o DEM, outro aliado natural dos tucanos, parece mais inclinado a fechar acordo com a base aliada do governo Temer do que a ir para a oposição.

Todo esse raciocínio, no entanto, não leva em consideração o desgaste dos partidos políticos diante da opinião pública. Há candidaturas isoladas que acreditam na efetividade da repulsa do eleitorado aos partidos tradicionais, como Marina Silva, que deve se candidatar pela Rede com a base de cerca de 20 milhões de votos nas duas últimas eleições presidenciais. Há também o Partido Novo, que quer radicalizar na novidade, não aceitando o fundo partidário e não fazendo coligações. Seu candidato, o economista João Amoedo, joga na desconfiança do eleitorado da política tradicional para se distinguir dos concorrentes.

Assim como diversos caciques do PMDB, especialmente do nordeste, já abandonaram a nave-mãe para tentar se acoplar à popularidade de Lula, também a candidatura de Bolsonaro está atraindo candidatos de diversos partidos que devem reforçar a bancada do Patriotas, provável sigla pela qual ele disputará a presidência.

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Aos que fazem comparações com a eleição presidencial de 1989, que permitiu a Collor, visto como um outsider, ser eleito, os políticos tradicionais lembram que aquela foi uma eleição “solteira”, isto é, apenas a presidência da República estava em jogo.

A do ano que vem será “casada”, com disputas para a totalidade dos deputados estaduais e federais, 2/3 dos senadores, governadores e Presidente da República. O que pode fazer toda a diferença se as máquinas partidárias e a propaganda eleitoral tiverem a importância que a análise tradicional indica. Mas o eleitorado e as redes sociais podem subverter esse conceito estabelecido.

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