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Augusto Nunes

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Nelson Motta: A imagem borrada de uma era

Em vez de espectadores, a TV Brasil gerou empregos a companheiros, programas que ninguém viu e prejuízos irrecuperáveis

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 22h32 - Publicado em 10 jun 2016, 16h14
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  • Publicado no Globo

    Você já viu a TV Brasil? Em cinco anos, ninguém viu. Porque não dá para ver. Em vez de uma imagem digital nítida e brilhante como se vê em outros canais, é uma tela de manchas e borrões em cores esmaecidas que remetem à TV dos anos 80. Essa é a principal, mas não única, razão para o fracasso retumbante da TV Brasil, que Lula bravateava que seria uma BBC, mas jamais conseguiu sair do “traço” de audiência, do zero, jogando no lixo bilhões de reais de dinheiro público. Em vez de espectadores, gerou empregos a companheiros, programas que ninguém viu e prejuízos irrecuperáveis.

    A EBC explica que a imagem da TV Brasil é a pior da televisão brasileira porque não havia dinheiro para investir na qualidade da geração de áudio e vídeo: a base de tudo. Com tantos funcionários e terceirizados consumindo a maior parte do orçamento produzindo programas para ninguém ver, é natural que não sobre dinheiro para o investimento fundamental em tecnologia, sem o que, é certo, por melhor que seja o “conteúdo”, ninguém vê. É o que provam os números do Ibope, esclarecendo que os raros sinais de alguma audiência do canal são apenas registros residuais de zapings.

    Foi bizarra a polêmica sobre a entrevista que Dilma deu a Luis Nassif para a TV Brasil: deveria ou não ir ao ar? Seria uma partidarização da emissora? Mas a TVB não foi sempre governista e contratante de profissionais identificados com suas políticas? O diretor da EBC diz que, por imparcialidade, também entrevistará Temer… rsrs. Mas por que Temer perderia seu precioso tempo para falar para ninguém?

    A entrevista de Dilma pode ir ao ar quantas vezes for. Ninguém vai ver mesmo, entre as sombras e borrões da tela da TV Brasil — a imagem de uma era brasileira em que a “vontade política” e o aparelhamento ideológico prevaleceram sobre a lógica, a tecnologia e a rejeição absoluta do público que a financia.

    Uma televisão que não é vista por ninguém simplesmente não tem razão de ser — por mais nobres e justas que sejam suas intenções. É melhor tentar outro modelo: este fracassou no conceito, na forma, no conteúdo e na gestão.

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