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O censor suspendeu o serviço

O empresário Fernando Sarney, filho de José, divulgou nesta tarde a seguinte Nota à Imprensa: “Encaminhei à Justiça de Brasília desistência da ação que movo contra o Jornal O Estado de São Paulo. A ação foi necessária para defesa de meus direitos individuais protegidos pela Constituição e sob tutela do segredo de Justiça, reconhecidos pelo […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 16h12 - Publicado em 18 dez 2009, 18h03

O empresário Fernando Sarney, filho de José, divulgou nesta tarde a seguinte Nota à Imprensa:

“Encaminhei à Justiça de Brasília desistência da ação que movo contra o Jornal O Estado de São Paulo. A ação foi necessária para defesa de meus direitos individuais protegidos pela Constituição e sob tutela do segredo de Justiça, reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal. Infelizmente este meu gesto individual de cidadão teve, independente de minha vontade, interpretação equívoca de restringir a liberdade de imprensa, o que jamais poderia ser meu objetivo. Para reafirmar esta minha convicção e jamais restar qualquer dúvida sobre ela, resolvi tomar esta atitude, considerando que a Liberdade de Imprensa é um patrimônio da democracia e que jamais tive desejo de fazer qualquer censura a seu exercício”.

É bom saber que, depois de 140 dias sob censura, o Estadão está livre da mordaça intolerável. É péssimo constatar que o fim do silêncio não foi decretado pela sensatez do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, nem pela sabedoria do Supremo Tribunal Federal, mas pela esperteza do primogênito do presidente do Senado. Em parceria com o desembargador amigo Dácio Vieira, Fernando Sarney impôs a censura quando quis. Resolveu agora suspender o serviço porque quer.

Socorrida pelo tribunal de Brasília com a censura providencial, homenageada pelo Supremo com a ratificação da infâmia, a família Sarney teve quase cinco meses para a queima de arquivos, a busca de álibis, o desmonte de armadilhas, o extermínio de pistas e a eliminação de provas e evidências. Ajeitadas as coisas, o principal executivo do bando restituiu ao jornal o direito criminosamente confiscado. “Infelizmente, este meu gesto individual de cidadão teve, independente de minha vontade, a interpretação equívoca de restringir a liberdade de imprensa”, avisa um dos melhores momentos da nota.

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O estilo trôpego e a semântica diversionista informam que o pai ditou o texto. “Gesto individual” foi a expressão escolhida para reiterar que Madre Superiora não teve nada a ver com o pecado. A nota também diz, em linguagem retorcida, que foi um equívoco achar que quem censura um jornal quer censurar um jornal. Fernando Sarney reitera que só queria defender seus direitos. A argumentação malandra, avalizada pelo silêncio dos cafajestes, teve o endosso explícito de seis ministros do STF

Outros três subscreveram a verdade resumida por Celso de Mello: “A censura prévia é discriminatória, além de arbitrária e inconstitucional”.  A família Sarney é esperta. Ouviu primeiro a voz indignada do Brasil que presta, ignorada pelo Executivo, pelo Legislativo e pelo Judiciário.

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