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O cinismo de Henrique Alves avisa que os donos do poder subestimam a voz das ruas

Na semana em que milhares de manifestantes ocuparam o teto do Congresso e tentaram invadir o prédio, o deputado federal Henrique Alves não se teria atrevido a aparecer no Maracanã para ver um jogo de futebol. E nem lhe passaria pela cabeça requisitar um jato da FAB para encurtar a duração do voo entre Natal […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 05h51 - Publicado em 3 jul 2013, 22h05

Na semana em que milhares de manifestantes ocuparam o teto do Congresso e tentaram invadir o prédio, o deputado federal Henrique Alves não se teria atrevido a aparecer no Maracanã para ver um jogo de futebol. E nem lhe passaria pela cabeça requisitar um jato da FAB para encurtar a duração do voo entre Natal e o Rio de Janeiro.

Na semana em que a multidão indignada voltou a sitiar a sede do Poder Legislativo, o presidente da Câmara não teria ousado transformar em passageiros da FABTur um de seus filhos, a noiva, dois filhos da noiva, um irmão da noiva e uma cunhada da noiva. Um pai-da-pátria e sete agregados. Um espanto, até para os padrões do Brasil.

Se a onda de atos de protesto estivesse em seu clímax, o parlamentar do PMDB potiguar não teria desferido tantos e tão vigorosos pontapés no decoro, na ética, na moral, na lei e no patrimônio público. Descoberta a delinquência, Henrique Alves jurou que havia viajado (justo na véspera da final da Copa das Confederações) para um encontro oficial com o prefeito Eduardo Paes. Devem ter debatido a escalação do time de Felipão.

Para reparar o que rebatizou de “erro”, o gerente da Casa dos Horrores promete devolver ninguém sabe a quem uma quantia equivalente a sete passagens de ida e oito de volta (um amigo do irmão da noiva pegou carona no retorno ao Rio Grande do Norte). Feito isso, deu por finda a história muito mal contada. Página virada. Vida que segue.

É muita desfaçatez. É muita sem-vergonhice. E é mais uma prova de que os destinatários se recusam a receber a claríssima mensagem das ruas: a paciência do país que presta acabou. Parecia ilimitada. Não era. Milhões de brasileiros estão fartos de bancar a gastança dos parceiros pendurados no poder. Cansaram-se de ser tratados como idiotas.

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Os henriques alves que infestam os três Poderes parecem acreditar no que anda recitando o marqueteiro João Santana: o que se viu neste junho foi apenas “uma catarse temporária”. Estão brincando com fogo ─ literalmente. Desde o começo da revolta da rua, o governo e o Congresso nada fizeram para eliminar os motivos dos incontáveis atos de protesto. O copo continua até aqui de náusea. Vai transbordar de novo.

O elenco do espetáculo do cinismo decerto ignora que, minutos antes do tsunami, as águas se afastam da praia. É um recuo enganoso. É o aviso sinistro: a onda imensa está chegando.

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