Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O democrata radical

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA AUGUSTO NUNES Neto do Júlio que em 1891 fundou a dinastia, filho do Júlio que entre 1927 e 1969 consolidou o império e lhe moldou a alma, irmão do Júlio que  até a morte, em 1996, liderou a luta pela preservação das fronteiras em perigo, o jornalista Ruy Mesquita era um príncipe já septuagenário quando  os […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 06h09 - Publicado em 27 Maio 2013, 19h21
  • Seguir materia Seguindo materia
  • PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DESTA SEMANA

    ruy-mesquita-20130521-size-598

    AUGUSTO NUNES

    Neto do Júlio que em 1891 fundou a dinastia, filho do Júlio que entre 1927 e 1969 consolidou o império e lhe moldou a alma, irmão do Júlio que  até a morte, em 1996, liderou a luta pela preservação das fronteiras em perigo, o jornalista Ruy Mesquita era um príncipe já septuagenário quando  os conselheiros do reino decidiram revogar o direito de primogenitura para entregar-lhe a sala do trono ─ disfarçada de gabinete do diretor  responsável do jornal O Estado de S. Paulo. Nos trinta anos anteriores, o filho do meio do mítico doutor Julinho tivera de contentar-se com o  Jornal da Tarde, território muito bonito e pouco rentável doado pelo pai ao jovem redator que esbanjara talento na editoria internacional do  Estadão. A alteração da rota deu certo. Até morrer de câncer neste 21 de maio, aos 88 anos, Ruy Mesquita cansou-se de provar que nasceu para ser Júlio IV.

    Ele sempre soube disso, atestou a entrevista concedida a Carlos Maranhão, de VEJA SÃO PAULO, logo depois da coroação consumada em 18 de  agosto de 1996. “Nada de fundamental vai mudar, pois nossa linha e nossos princípios permanecem os mesmos”, avisou. “O que muda é o estilo.  Todo grande jornal reflete o estilo de quem realmente manda nele.” Na forma, os editoriais (“notas”, insistem os Mesquita há mais de 100 anos)  tornaram-se ligeiramente menos sisudos. Foram aposentados, por exemplo, arcaísmos que já eram grisalhos na corte de dom João VI. E sumiram  certos sintomas de arrogância retórica, como o “Estamos à vontade para manifestar nossa opinião sobre…”, que abriu incontáveis vezes o texto  publicado no alto da página 3. Mas o conteúdo seguiu intocado. E o jornal continuou à vontade para manifestar-se sobre qualquer assunto ─ da  guerra do Afeganistão a uma briga de gangues ─ amparado em certezas que atravessaram incólumes o século das grandes transformações.

    Continua após a publicidade

    Durante dezessete anos, armado de uma Olivetti que resistiu bravamente ao advento da era da informática, o doutor Ruy redigiu quase todos os  dias a fala do trono ─ como se referem os súditos da redação ao editorial principal, que todo Mesquita aprende ainda na infância a chamar de “primeira nota”. Conjugados, os milhares de parágrafos comprovam que, como os antecessores, Ruy Mesquita também foi poupado das coceiras da  dúvida. Se alguma ousasse rondá-lo, bastava recordar os ensinamentos do pai e retomar o caminho percorrido sem desvios há bem mais que 100  anos. “Fundado por abolicionistas e republicanos, desde seus tempos iniciais, quando tinha no cabeçalho o título A Província de São Paulo“, reiterou em 1998, “este diário nunca abandonou a trincheira da guerra pelos princípios democráticos, que se baseiam no primado da liberdade de  agir, empreender, trabalhar, se reunir e se manifestar”.

    Formulada pelo homem de pensamento, essa declaração de amor à democracia foi reafirmada pelo homem de ação sempre que as circunstâncias  exigiram que combatesse além do campo das palavras. Em 1964, convencido de que o estado de direito estava ameaçado pela ofensiva  esquerdista, Ruy Mesquita juntou-se aos conspiradores que articularam o golpe militar com a mesma determinação exibida pelo democrata  radical na oposição aos generais que, com a decretação do Ato Institucional n° 5, proclamaram a ditadura escancarada e precipitaram a ruptura  com o templo do liberalismo clássico. Na década de 70, nos momentos mais sombrios do hiato liberticida, o cinquentão que a poliomielite forçara  a andar até os 8 anos com a ajuda de aparelhos escoltou numerosos jornalistas perseguidos pela polícia política. Depois de comunicar aos  carcereiros que se haviam tornado, a partir daquele instante, responsáveis pela integridade física do prisioneiro, voltava à sede do império para  exigir que fosse libertado.

    Na edição que homenageou o valente defensor da liberdade morto aos 88 anos, havia apenas o cavaleiro com a trombeta, cercado de branco por  todos os lados, no espaço reservado à fala do trono, com uma moldura preta que evocava cartões de luto. Nada poderia retratar tão nitidamente a  paisagem redesenhada pela ausência. Desde que se intensificaram as dificuldades financeiras, que já afetavam a empresa quando substituiu o  irmão Júlio de Mesquita Neto, o doutor Ruy ali se entrincheirou. Sem paciência para lidar com questões administrativas, escreveu como nunca ─ em todos os sentidos. Se houver um Júlio V, decididamente não será tão brilhante quanto o grande combatente que partiu.

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.