É mais barato e menos desgastante instalar um poste no Palácio do Planalto do que na prefeitura de São Paulo, descobriu nesta primavera o ex-presidente Lula. Para transformar Dilma Rousseff em sucessora, o chefe da seita só precisou promovê-la a Mãe do PAC em 2007, comunicar aos devotos que fora ela a escolhida e sacar do coldre a caneta que nomeia e distribui verbas. A afilhada quase foi eleita no primeiro turno. A vitória no segundo sobre José Serra viria mesmo se o padrinho resolvesse tirar uma improvável folga dos palanques.
Bem mais caro e trabalhoso foi eleger Fernando Haddad prefeito da maior cidade do país. Para que o poste não desabasse já no primeiro turno, só o apoio de Paulo Maluf custou uma secretaria de alta rentabilidade no Ministério das Cidades, uma constrangedora sessão de fotos no jardim da mansão e, como acaba de revelar o procurado pela Interpol, duas ou três siglas que lidam com habitação. Maluf sempre soube explorar o setor.
Marta Suplicy cobrou um Ministério da Cultura para acordar num palanque ao lado de Maluf e ajudar a manter o poste de pé. Gabriel Chalita, candidato do PMDB no primeiro turno, também cobrou um ministério para ajudar a carregar o poste na etapa final. Tudo somado, não teria sido salgado demais o preço pago para que o invento de Lula vencesse? “O importante é que conquistamos um reduto tucano”, fantasia o ex-jornalista Rui Falcão, presidente do PT.
Coisa de mitômano. Desde a ressurreição das eleições diretas em 1985, quando Jânio Quadros venceu Fernando Henrique Cardoso, o PSDB só foi vitorioso em 2004, com José Serra. Em contrapartida, Haddad será o terceiro prefeito petista, depois de Luiza Erundina (1988-1992) e Marta Suplicy (2000-2004). No período que separou as duas administrações companheiras, a cidade ficou sob o domínio de Paulo Maluf, que conseguiu um segundo mandato com o codinome Celso Pitta.
O histórico das eleições na cidade informa que São Paulo nunca foi reduto de partido nenhum. O poste de Lula derrotou um adversário do PSDB, certo, mas será alojado no gabinete ocupado por Gilberto Kassab, que em 2008, depois de completar o mandato de Serra, elegeu-se pelo DEM e hoje comanda o PSD. No “reduto tucano”, nenhuma sigla teve mais prefeitos que o PT. E Haddad não reconquistou nenhum território antigovernista: o PSD já faz parte da base alugada. Kassab mal esperou o fim das apurações para oficializar a aliança costurada nas sombras com a seita que faz qualquer negócio e aceita qualquer parceiro para garantir-se no poder.
Reduto tucano sem aspas, isto sim, é o estado de São Paulo, administrado desde 1994 por governadores tucanos. Lula não admite morrer sem ver o fim do reinado que vai completar 20 anos em 2014. A batalha pela retomada da capital foi só o prelúdio da guerra pela conquista do território paulista. Se fez o que fez na eleição municipal, o que não fará o fabricante de postes para instalar um Alexandre Padilha no Palácio dos Bandeirantes?
A tomada da sede do poder estadual é um sonho obsessivamente perseguido por Lula desde 1982, quando naufragou na disputa do governo paulista. Com o apoio de 5,2 milhões de eleitores, o vitorioso Franco Montoro teve o dobro dos votos de Reinaldo de Barros, o triplo dos atribuídos a Jânio e estabeleceu uma vantagem colossal sobre o concorrente do PT, quarto colocado com pouco mais de 1 milhão de votos. A frustração sofrida há 30 anos vem sendo ampliada a cada dois.
Neste novembro, por exemplo, o PT venceu em apenas 68 cidades, mais de uma centena abaixo do PSDB. Como se verá em outro texto, a brigada de 174 prefeitos tucanos é um dos muitos trunfos que, usados com competência, prolongarão pelo menos até 2018 a aflitiva espera dos devotos. O mestre já está à caça de aliados que lhe permitam enfrentar com chances o governador Geraldo Alckmin, candidato declarado à reeleição.
Para o homem dos postes, vale qualquer parceiro. Até o PCC.