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Augusto Nunes

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Oliver comenta a queda do viaduto incluído no PAC da Copa: ‘Vejo, mas não creio’

VLADY OLIVER Sou engenheiro civil. Não atuo na profissão, embora ela ainda atue em mim em diversas ocasiões. O episódio da queda do viaduto em Minas, nesta quinta-feira, é um episódio tão acabado de pusilanimidade que fica difícil olhar e não ver que tipo de agentes públicos concorrem para nos matar. Começa pelo fato de […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 03h33 - Publicado em 4 jul 2014, 14h19
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  • VLADY OLIVER

    Sou engenheiro civil. Não atuo na profissão, embora ela ainda atue em mim em diversas ocasiões. O episódio da queda do viaduto em Minas, nesta quinta-feira, é um episódio tão acabado de pusilanimidade que fica difícil olhar e não ver que tipo de agentes públicos concorrem para nos matar. Começa pelo fato de que um canal jornalístico da tevê paga exibiu por quase duas horas imagens de helicóptero da região e do resgate. Aliás, que resgate? Vieram informações de que bombeiros teriam falado com o motorista do automóvel soterrado por alguns minutos, mas ele teria parado de falar.

    Ao tentar achar mais informações sobre o caso, me deparei com o show de vigarice dos “técnicos” e “autoridades”, que teriam descartado, há dias, a queda do viaduto que se confirmou hoje. É impressionante. Pergunte se há macacos hidráulicos na obra, se alguma equipe foi escalada para fazer uma incursão na “caixa” estrutural do viaduto e furá-lo para conseguir acesso às vítimas. Nada. Duas desesperadoras horas de um helicóptero dando voltas no acidente, mostrando claramente que não havia nenhum procedimento de resgate em curso naquele momento. Danem-se os mortos. Foram só dois até agora mesmo. Melhor não tivessem escolhido passar numa obra tão picareta bem na hora do seu desabamento, não é mesmo?

    A situação de paralisia em que se encontram certos serviços públicos realmente é aterradora. O espetáculo da vigarice, da inépcia, da descaso com a vida, da empulhação e da irresponsabilidade chega a enojar. Lembrei imediatamente do incêndio da Boate Kiss: os bombeiros cuidavam de fechar o trânsito enquanto os próprios estudantes se matavam para tentar salvar os colegas. Como afirmei na época, os extintores que faltaram na tragédia deveriam estar na piscina da casa do prefeito. Hoje esta amarga sensação me toma de novo, me enchendo de indignação.

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    Eu deveria ter um grande futuro numa rede de televisão carioca. Um dia, no entanto, um episódio como este mudou minha percepção de Rio de Janeiro. Um homem foi atropelado bem diante do lugar onde eu costumava jantar, justamente porque ali havia um posto da polícia, em Ipanema. O cara ficou agonizando na chuva, na nossa frente. Um rapaz chegou ao local e tentou fazer os primeiros socorros, mas foi impedido pelos policiais, que se limitaram a desviar o trânsito para que o atropelado não fosse atropelado de novo. “Sou enfermeiro e ele está morrendo”, gritava o indignado transeunte. Não adiantou nada.

    Mais de meia hora depois, quando chegaram os paramédicos, já não havia nada a ser feito. Aquilo foi tão gritante que resolvi que dinheiro, fama e talento não valiam nada diante da possibilidade de morrer como um indigente estirado numa rua qualquer da cidade não tão maravilhosa assim e sem socorro. Voltei para São Paulo e recomecei minha vida. Hoje, a idade me faz ter uma ou outra crise de apneia, de quando em vez. E me vejo esmagado por um automóvel, ou soterrado vivo, sem poder respirar ou tomando um caldo numa onda gigante.

    Por sorte, os momentos de pânico duram pouco e têm tratamento. Já morrer lentamente pela inépcia generalizada, debaixo de toneladas de concreto e nenhum socorro deve ser uma agonia miserável. Tão miserável quanto as autoridades que liberaram o elefante para cair na cabeça dos passantes. Aposto que o concreto que faltou para o sustento da trapizomba pode ser encontrado nos jantares elegantes, nas festas e cerimônias bancadas pelos orçamentos dessas obras feitas para inglês ver caindo. Este país definitivamente anda um lixo. Quando anda.

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