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Augusto Nunes

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Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Que verdade nos libertaria?

Mas será desta vez ou não que a "conheceremos"? Essa é a dúvida que, resolvida a eleição, ainda remanescerá

Por Fernão Lara Mesquita
Atualizado em 30 jul 2020, 20h13 - Publicado em 25 out 2018, 07h10
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  • Fernão Lara Mesquita (publicado no Vespeiro)

    Sobre a semana de “Desespero” que passou, nada mais a dizer. Sobre “ameaças à democracia” no país que caminha para os finalmentes de uma lição exemplar sobre a real proporção da viagem na maionese de quem quer que acredite que pode tornar-se dono dele e ditar-lhe regras, não há mais qualquer preocupação.

    Arrancamo-nos do século 20 e, dele, ninguém nos pega mais. Podemos voltar a dar-nos o luxo de pensar o futuro.

    A verdade nos libertará?

    Sem dúvida somente a verdade nos poderá libertar. Mas se será desta vez ou não que a “conheceremos”, essa é a dúvida que, resolvida a eleição, ainda remanesce. Há uma promessa de olhar para o quadrante onde os problemas de fato estão na economia e em outras vertentes não totalmente desprovidas de importância no espaço aberto entre a história real e a narrativa do drama brasileiro. Não é pouco, considerado o ineditismo e a distância que tomamos da realidade, mas é só o que há.

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    Atacar questões como as da Previdência e do resto do sistema de privilégios e colonização do Estado que puseram o Brasil na miséria não é mais uma questão de escolha, é um imperativo de sobrevivência. Os 0,5% da população empregados pelo Estado, que os outros 99,5% sustentam, consomem integralmente os 40% do PIB que o Estado toma à Nação e mais o que contrata de dívida por ano nas costas dela sem nenhuma contrapartida de merecimento. A coleção de “direitos” que se autoatribuem à custa da “desaquisição” dos mais básicos do resto dos brasileiros garante a expansão continuada desses privilégios por mero decurso de prazo. Os 63 mil assassinados por ano são a forma final que essa fatura assume depois de vir espalhando miséria no corpo e na alma do Brasil pelo caminho afora.

    Isso vai ter de parar. Vai ter de voltar para trás. Não há mais escolha.

    Mas tudo isso ainda são efeitos. A causa de tudo ainda é a política. Tudo o mais que nos atropela é decorrência direta da inexistência de um sistema real de representação do País real no País oficial e da inexpugnável blindagem dos mecanismos de decisão contra qualquer interferência da massa dos excluídos, da plebe, da ralé também dita “eleitorado”.

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    Os países são feitos para quem tem a última palavra no seu processo de tomada de decisões. E muito pouca coisa para além dessa verdade é verdade no blá-blá-blá com que nos engambelam desde Tiradentes. Existe democracia se e quando há uma ligação aferível dos representados de cada representante eleito e estes dispõem de instrumentos efetivos para impor a sua lei àqueles. É simples assim. Tem o poder quem tem o poder de demitir. É isso que decide se o país será construído pelos representantes eleitos para eles próprios e para “os seus” ou para o povo, para os eleitores.

    Hoje a dúvida sobre para quem é feito o Brasil é zero. É dado à plebe, à ralé, ao eleitorado ir às urnas a cada quatro anos, como irá mais uma vez domingo, mas daí por diante e até a próxima eleição, em mais quatro anos, ele estará totalmente excluído da discussão do seu próprio destino. Qualquer ascensorista do Congresso Nacional, qualquer “massoterapeuta” de nossos egrégios tribunais ─ que os há em todos e pagos com dinheiro da favela! ─, o mais reles dos auxiliares de coisa nenhuma com acesso ao pé do ouvido das “excelências” da corte tem muito mais poder de influir e de “adquirir direitos” nessa ordem legal espúria que distribui os ônus e os bônus de ser brasileiro que os milhões de eleitores que permanecerão amordaçados até a próxima eleição; que os milhões de brasileiros a quem, a cada quatro anos, é concedido fazer “a sua escolha” entre as escolhas deles e depois penar calados as penas de manter o desfrute da “privilegiatura”.

    Dez milhões contra 200 milhões. E, no entanto, passa batida, como a expressão da mais pura verdade estabelecida, a afirmação, diariamente repetida pela situação e pela oposição e amplificada pelos “contra” e pelos “a favor”, de que tocar em qualquer desses privilégios seria “altamente impopular”. É um resumo eloquente da extensão da imunodeficiência nacional à mentira.

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    A mera exposição honesta e didática das parcelas que compõem a miséria do Brasil conduzirá à libertação do nó cego de mentiras que mantêm atadas as contas públicas. Nada poderá deter a força dos 99,5% lesados apenas se lhes for dado conhecer os números exatos sobre quem, entre os 0,5% restantes, está levando quanto, e quais as alternativas para ir buscar a diferença que mede o desastre humanitário nacional em outros bolsos senão os que estão sendo injusta e indecentemente recheados com dinheiro independente de suor.

    Mas até aí estaremos falando apenas de manter viva a galinha dos ovos de ouro. E de assegurar a disputa pelo “direito” de ser o primeiro a colhê-los.

    O lugar de honra do panteão dos heróis da História do Brasil continuará vago até que chegue quem seja honesto o bastante para fazer a reforma política que tornará impossível que, “como regra, a mentira esteja acima de tudo no nosso meio político”, seja quem for o eleito da vez para fazer o seu turno “lá”; a reforma que tornará os representantes eleitos dependentes dos seus eleitores antes, durante e depois de cada eleição e lhes dará a última palavra em cada uma das decisões que afetarão o seu futuro; a reforma que emancipará os brasileiros e porá diretamente nas mãos deles a busca das soluções possíveis, na velocidade que lhes convier, para limpar e reconstruir este país, cada pedaço dele à sua imagem e semelhança, e fazê-lo avançar daí por diante sem compromisso com a petrificação do “erro” em privilégio, sem medo de experimentar como a vida pede a cada um de nós que façamos.

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    Voto distrital puro para garantir a fidelidade da representação do País real no País oficial e para tornar operacional mudar com segurança no ritmo da necessidade, direito de retomada de mandatos e referendo das leis dos Legislativos a qualquer momento para lembrar sempre quem é que manda, eleições de retenção de juízes para prevenir marchas à ré.

    Eis a verdade que nos libertaria.

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