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Augusto Nunes

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Sul, o queridinho da vez

Prevalece a corrida pelo desconfiado voto feminino, que soma 52% do eleitorado e a tentativa de evitar a dispersão dos 21,4 milhões de votos sulistas

Por Eliane Cantanhêde
Atualizado em 30 jul 2020, 20h22 - Publicado em 9 ago 2018, 07h18

Eliane Cantanhêde (publicado no Estadão)

As novidades da eleição de 2018 vêm sendo todas derrubadas, mas eis que surge uma de onde menos se esperava: os vices não saíram nem do Nordeste nem de Minas Gerais. A turma deixou de dar murro em ponta de faca para arrancar votos nordestinos do PT, e o PSDB avalia que os votos mineiros estão em boas mãos com o tucano Antonio Anastasia disputando o governo.

Se há algum vice nordestino no primeiro pelotão é Eduardo Jorge (PV), na chapa de Marina Silva (Rede), mas ele só nasceu na Bahia e fez toda sua vida política em São Paulo, que tem 33 milhões de eleitores.

Prevaleceu a corrida pelo forte e desconfiado voto feminino, que soma 52% do eleitorado e a tentativa de evitar a dispersão dos 21,4 milhões de votos do Sul entre os presidenciáveis. Nada menos que quatro candidatos a vice são do Rio Grande do Sul: Ana Amélia (PP), de Alckmin; Manuela d’Ávila (PCdoB), de Fernando Haddad, ops!, de Lula; Germano Rigotto, de Meirelles; Hamilton Mourão, de Bolsonaro.

A lógica da escolha da senadora Ana Amélia é clara, porque ela tem o objetivo de segurar as traições do PP, recuperar os 4% de intenções votos de Alvaro Dias (Podemos) no Sul para o PSDB e evitar que a tropa sulista marche para Bolsonaro. Três dos ex-presidentes do regime militar eram gaúchos: Costa e Silva, Emílio Médici e Ernesto Geisel.

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Aliás, Bolsonaro teve de tudo para vice, de príncipe a astronauta, de pastor a general, de socialite rica à advogada Janaína Paschoal, mas ele acabou chovendo no molhado. O que o general Mourão acrescenta à chapa do capitão Bolsonaro? E quem bate continência para quem? A chapa miliar “puro-sangue” pode até segurar as intenções de votos recolhidas até aqui, mas dificilmente amplia o seu horizonte.

Do outro lado do espectro político, o PCdoB jurou que iria com candidata própria para a Presidência pela primeira vez, depois de ficar sempre a reboque do PT, e chegou até a fazer convenção em Brasília para lançar Manuela Dávila. Acreditou quem quis.

Mais esta “novidade” foi por água abaixo quando o PCdoB desistiu da gaúcha para continuar sendo satélite do PT. Criou, assim, uma figura interessante: a vice do vice. Como assim? Manuela deixou de ser candidata a presidente para ser vice do ex-presidente Lula, que, como todos sabemos, está tecnicamente impedido de disputar. Então, Manuela é vice de Haddad, que é “vice de Lula”. O teatro continua.

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Ciro Gomes, jogado às traças por Lula, pelo PT, pelo PSB e pelo DEM, teve de se contentar com uma chapa puro-sangue, mas só em se tratando de partido, não exatamente de ideologia. Ciro é do PDT, sua vice Kátia Abreu também. Mas Ciro jura que é de esquerda e tudo que Kátia Abreu não é, e nunca foi, é de esquerda. Trata-se de uma líder ruralista competente e determinada, que se elegeu para o Senado e já presidiu a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

Sua única e fugaz incursão pela “esquerda” foi o voto passional contra o impeachment da amiga Dilma Rousseff, o que jogou Kátia num limbo ideológico: perdeu toda a força política que realmente tinha na CNA e no mundo do agronegócio e nem por isso ganhou apoio, simpatia e cumplicidade nas esquerdas, nem mesmo no PT.

É assim que, depois de tanto se falar em Joaquim Barbosa, João Doria, Luciano Huck, Flávio Rocha e Paulo Rabello de Castro, a eleição afunila para políticos experientes e tradicionais. E não me venham dizer que Bolsonaro não é político, depois de um quarto de século na Câmara dos Deputados e com três filhos na política.

Com esse fim das “novidades”, já não é mais impossível o velho e conhecido Fla-Flu entre PT e PSDB. Ainda tem muito jogo, mas parece até cada vez mais provável.

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