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Augusto Nunes

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Um ministério para chamar de seu

Temer não sabe o que fazer com a segurança e, por isso, inventou mais um cabide de cargos

Por José Nêumanne
Atualizado em 4 jun 2024, 16h56 - Publicado em 22 fev 2018, 13h01

José Nêumanne, publicado no Blog do Nêumanne

O presidente Michel Temer não sabe o que fazer para acabar com a praga que mais assola, ameaça e apavora o cidadão brasileiro: a violência. Isso não é novidade, pois nenhum presidente antes dele sabia. Só que dos anteriores ─ apenas para lembrar os pós-Constituição de 1988, Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma ─ ninguém imaginou que podia ser tão fácil livrar-se da cobrança pela maior tragédia nacional. E o atual acha que teve uma ideia brilhante, similar à de Cristóvão Colombo quando pôs o ovo em pé: fundar um ministério, nomear um ministro e fazer discursos vazios sem projetos, planos nem relatórios, apenas com boas intenções, das quais, já dizia minha avó, o inferno está cheio.

O ano passado começou com chacinas em presídios em Manaus, Boa Vista e Nísia Floresta, na Grande Natal. O inferno prisional entregou à sociedade brasileira seu cartão de visitas sujo de lama e de sangue. O governo passou unguentos nas feridas abertas e seguiu em frente. Este ano a dose foi repetida, acrescentando aos palcos do horror bárbaro o presídio de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital de Goiás, às portas de Brasília. Desta vez, os dados vieram acompanhados com o noticiário trágico da violência urbana no Rio de Janeiro, sede do maior espetáculo do mundo, o desfile das escolas de samba do Grupo Especial. Como o caos ganhou o mundo, o jeito foi inventar uma saída de ocasião para trocar a fantasia de presidente reformista pela de babalorixá da paz entre eleitores. Temer não hesitou: interveio no Rio, que está longe de ser o Estado mais violento do País (é o décimo), e mandou um general tomar conta. O general entrou na liça “causando”. Para ele, o problema do Rio nem era tão grave assim, trata-se apenas de uma invenção da mídia.

Antes de alguém lembrar ao soldado solerte que, se é como ele diz, o que está fazendo na orla da Baía da Guanabara que tanto encantou Cole Porter? Então, seria o caso de lhe recomendar cautela, caldo de galinha e silêncio. Pois, enquanto estiver sorvendo a colherada, não terá de falar a primeira patacoada que lhe ocorrer, como parece ter sido o caso. Em vez de cobrar do militar e de seus superiores, que não são poucos, que moderem o discurso, o presidente resolveu ir ao Rio para anunciar, em tom de comício em fim de feira, algo que poderia ser definido como uma versão política do deus ex-machina do velho teatro grego: um ministério só para salvar a segurança pública. Uau! A notícia foi dada em primeira mão pela repórter Andrea Sadi, da GloboNews, no começo da semana. Consumado e consumido o fato, no domingo à tarde a referida repórter, especialista em bastidores da República dos espertinhos, contou que o presidente se reuniu com seu marqueteiro Elsinho Mouco (que não se perca pelo sobrenome) e o especialista em opinião pública Antônio Lavareda, porque quer usar a calamidade do Rio para se “capitalizar politicamente”. No tempo de Dilma, isso se chamaria sincericídio, mas, como é difícil encontrar sinceridade na confissão, talvez seja mais lógico chamá-la de escorregão nas cascas de banana do vernáculo, que nada tem que ver com isso, coitadinho!

Andreza Matais, que também se adiantou ao anúncio oficial na Coluna do Estadão, advertiu que a medida não é unanimidade no Congresso. Nunca faltará um espertalhão que se sinta incomodado com a esperteza do outro e, por isso, vai querer melar o jogo que não lhe serve. Essa é a esperança que nos resta de que o ovo de Colombo de Temer se espatife. Pois o mínimo que se pode dizer da ideia de jerico é que ela não produzirá nenhum dos efeitos anunciados. Se ministério resolvesse alguma coisa, o da Saúde teria evitado o surto de febre amarela que nos assola um século depois de o trio Oswaldo Cruz, Pereira Passos e Rodrigues Alves haver enxotado a moléstia com o fumacê dos mata-mosquitos na República Velha. Não haveria desemprego, pois o Ministério do Trabalho e todo o aparato da Justiça Trabalhista atuam desde os tempos do Estado Novo de Getúlio, gastando os tubos, sustentando um montão de parasitas, sem nada fazer de útil. E, por fim, a onerosa máquina pública do Ministério da Educação, pelo qual passaram ilustres brasileiros como Gustavo Capanema e Darcy Ribeiro, impediria que o País passasse vexames enormes nos rankings internacionais de aprendizado.

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Por enquanto, só dá para saber que a nova pasta de um presidente que assumiu prometendo desocupar gabinetes na Esplanada dos Ministérios terá como primeiro efeito o esvaziamento do Ministério da Justiça, que já foi o primus inter pares (primeiro entre iguais) dos Gabinetes dos velhos tempos, para se tornar o patinho feio do primeiro escalão, hoje. Torquato Jardim, especialista em Direito Eleitoral, não tem o brilho dos titulares da República Velha, como Campos Sales, da democracia de 1946, como Tancredo Neves, ou mesmo da ditadura militar, como Petrônio Portella. Talvez não seja apropriado compará-lo sequer com Francisco Campos, vulgo Chico Ciência, autor da Constituição no Estado Novo. A bem da verdade, ele só saiu do anonimato ao constatar o óbvio ululante, mas incômodo, de que os comandos da Polícia Militar (PM) do Rio estão contaminados pela corrupção. Terá dito a Temer que seria metástase?

Só que agora o ministro acomodado passou a incomodar, porque deixou vazar sua insatisfação com a nomeação do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando “Por què no te callas?” Segóvia, abençoado pelo patrono da fina flor da burocracia, José Sarney. E certamente não foi por simpatia ou amor que o chefão do Executivo resolveu tirar o estouvado disparador de patacoadas de baixo de seu guarda-chuva. Oportunidade melhor do que esta não teria: a PF, com armas e bagagens, se mudará da subordinação à pasta mais antiga para ficar sob o pálio do mais novo ministério, qual seja, aquela espécie de procissão do Senhor Morto em busca de Sábado de Aleluia, em que se transformará o charco de sangue que Mouco e Lavareda tratarão de transformar em mina de ouro política.

A ensancha não podia ser mais oportunosa. Segovia assumiu a função assegurando que R$ 500 mil numa mala não constitui crime, como se fosse lana caprina um assessor especial e íntimo do chefe da República ser filmado por um delatar correndo com uma mala com essa dinheirama à saída de uma pizzaria. Muitas outras ele disse, mas continua impávido no lugar. Recentemente, o boquirroto desastrado-geral atraiu a ira dos coleguinhas da instituição ao “indicar” (como corrigiu a agência britânica Reuters) o breve engavetamento do inquérito que quer porque quer saber por que cargas d’água a dupla Cunha-Temer tanto insistiu que este até repetiu, em ampliar os prazos de concessão de empresas privadas, uma delas coincidentemente doadora milionária da campanha do MDB agora sem pê nem pudor. E ainda lhes garantiu prorrogações indefinidas de prazo.

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Ah, mas aí, segundo garantem os ouvidos menos moucos e mais atentos aos sopros e bafejos do Planalto, aentourage mais próxima de Temer se aborreceu muito com o rapaz. E só porque ele resolveu atender ao pé da letra a todos os desejos do chefe que o nomeou para o distinto posto. E tantas ele fez que o presidente teria resolvido, segundo esses mesmos ouvidores de gemidos e sussurros do pináculo do poder, dar ao pupilo arteiro mandato de três anos, dois deles impostos goela abaixo ao cidadão que ganhar a eleição presidencial de outubro próximo. E com todo esse desvelo cristão, Temer ainda é acusado por maledicentes de ser satanista!

Certo é que o tal Ministério da Segurança Pública vai custar mais uns caraminguás da conta que não será mais economizada da reforma Porcina da Previdência, aquela que só foi por nunca ter sido. Mas, mesmo havendo 12,2 milhões de desempregados espalhados pelas calçadas e pelos abrigos do País, o Brasil é a pátria das oportunidades, e não apenas para refugiados venezuelanos. Então, é o caso de desejar que no novo posto, sob a égide do Marun da vez ou do Ricardo Barros do resto do ano, Fernando “Por què no te callas?” Segovia continuará tendo de calar a boca. Pois foi isso que mandou o ministro do STF Luís Roberto Barroso – o que sempre será um alívio para seu chefe, senhor, protetor e protegido. E incontida alegria dos governadores gastadores, ineptos e incompetentes, que poderão torrar à vontade seus orçamentos e deixar a polícia por conta da viúva rica.

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