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Augusto Nunes

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Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
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Valentina de Botas: Nos tempos de Ruth Cardoso, o Brasil se modernizava e parecia que chegaríamos à civilização

VALENTINA DE BOTAS Afável, inteligente e divertida, chegou ao Palácio do Planalto senhora já de trajetória intelectual sólida e de carreira profissional respeitada; abdicou do cargo de primeira-dama dizendo que se tratava de uma “caricatura do original americano” e preferiu trabalhar de verdade criando o saudoso e eficiente Comunidade Solidária. Falo, claro, de dona Ruth […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 23h33 - Publicado em 11 fev 2016, 15h45

VALENTINA DE BOTAS

Afável, inteligente e divertida, chegou ao Palácio do Planalto senhora já de trajetória intelectual sólida e de carreira profissional respeitada; abdicou do cargo de primeira-dama dizendo que se tratava de uma “caricatura do original americano” e preferiu trabalhar de verdade criando o saudoso e eficiente Comunidade Solidária. Falo, claro, de dona Ruth Cardoso, guardiã, junto com o marido, da delicadeza e da honestidade de meios e fins nos Palácios do Planalto e Alvorada antes que a jequice, a truculência e a pilantragem as expulsassem dos respectivos salões.

Eu era professora de português para estrangeiros e, além de lhes ensinar nossa língua tão linda, sentia-me comprometida em traduzir o país para aquelas famílias estrangeiras, que vissem que não somos o povo do jeitinho, do faz assim mesmo que ninguém vai perceber, do deixa para amanhã o que já foi deixado ontem, do todo mundo faz assim. Com familiares e amigos que venceram pelo trabalho, estudo e capacidade, queria que os alunos soubessem o quão profissionais e honestos podemos ser.

Os tempos eram outros, corriam os anos 90, tínhamos outros exemplos e acho que, em geral, alcancei meus objetivos. Nos desdobramentos incríveis do Plano Real e na terapêutica de algumas insanidades nossas iniciada pelos governos FHC, recentemente batizados de “mar de insensatez socialista” num artigo risível, as instituições se revigoravam, a economia se estabilizava, o Estado e os mecanismos de governança se submetiam a agências fiscalizadoras, vigia o princípio republicano de separação entre público e privado, a democracia amadurecia no país que em 10 anos se livrara da ditadura militar e, na boa, se refazia de um impeachment:  o Brasil se modernizava e parecia que chegaríamos à civilização.

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Abordava as privatizações e o Comunidade Solidária nas aulas; mostrei aos alunos – todos interessados na nossa paisagem socioeconômica, política e cultural – como uma empresa pública recém-privatizada mantivera ascensoristas para elevadores automáticos, inclusive com adicional noturno sem que houvesse expediente à noite. Um assombro para americanos, alemães, britânicos, japoneses, canadenses, holandeses, chilenos, mas apenas um dado  merecedor de não mais do que um tsc, tsc, tsc no país de espantos que parecia ter visto de tudo até que o casal Lula da Silva esfregasse na nossa cara que nossas mazelas poderiam ser tragicamente agravadas e, ainda assim, a nação aplaudir e pedir bis. E mais um, e outro mais.

Com a ética em transe sob o lulopetismo, aquele país se perdeu na poeira que já soterra os patronos desse fenômeno miserável. Lula e Marisa Letícia estarão diante da Justiça por ocultação de patrimônio (acusação que não faz jus ao protagonismo delinquente do jeca na presidência e fora dela), mas, do alto das ruínas do futuro interditado, 14 anos de canalhice os contemplam e o casal sem limites descobrirá alguns porque frações do país escaparam à interdição e alcançaram a civilização. Num post, Augusto Nunes escreveu que d.Ruth Cardoso não merecia ter vivido para se ver envolvida num dossiê sórdido parido na Casa Civil de Dilma Rousseff (que perderá por esperar). Acrescento que é uma pena não ter vivido para ver chegar ao fim a era da canalhice que o ensejou.

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