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Augusto Nunes

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Valentina de Botas: O ser humano é o cara

VALENTINA DE BOTAS É fundamental, claro, manter o combate à súcia. Mas e se falássemos um pouco de outra coisa? Amo quase em segredo. Pela biografia dele, amá-lo é politicamente incorreto, imoral, injustificável até, ingênuo e inútil a um só tempo. Mais fofo seria amar os animais e a natureza. Mesmo não sendo exatamente fofa […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 00h09 - Publicado em 8 nov 2015, 16h57

VALENTINA DE BOTAS

É fundamental, claro, manter o combate à súcia. Mas e se falássemos um pouco de outra coisa? Amo quase em segredo. Pela biografia dele, amá-lo é politicamente incorreto, imoral, injustificável até, ingênuo e inútil a um só tempo. Mais fofo seria amar os animais e a natureza. Mesmo não sendo exatamente fofa e nem dessas pessoas que abraçam árvores, respeito a natureza – essa coisa tirânica – e jamais maltrataria algum animal. Mas meu amor é pela humanidade: acho o ser humano o cara.

Claro, algo deu muito errado com a espécie que faz maldades impensáveis; que inventou o axé baiano e o funk carioca, a pochete, aquele cabelo do Donald Trump (o Donald Trump!) e tal. Mas também há a amizade, Fellini e Borges, a dança – meu Deus, a dança! –, o vinho no mais profundo dos momentos chamado agora com quem queríamos estar enquanto Aznavour canta La Boheme, a macarronada de domingo, o vento no rosto, o fim de tarde caramelado em Picinguaba, os sambas da Clara Nunes, esta coluna, aquela paçoca de pilão que acompanha o café moído na hora lá naquele restaurante rústico na estrada para Campos do Jordão, a risada dos filhos.

Enfim, como resistir ao bicho em cujo coração, segundo Dostoiévski, se debatem Deus e o diabo? Escrevo a propósito do centenário da teoria da relatividade geral, registrado na belíssima matéria da revista VEJA da semana passada. O texto condensa a trajetória humana que (se) desvenda na investigação do espaço e termina afirmando que o segundo centenário da ideia magnífica de Einstein pode ser celebrado, pelos desdobramentos dela, “escutando os sons da criação”.

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Essa inquietação abriga o mistério fascinante quanto a existir companhia lá fora e, em certo sentido, Deus curou a solidão cósmica do homem cristão, mas a espiritualidade não respondeu a tudo. Em 1977, as Voyager 1 e 2 levaram, a quem interessar possam, registros com saudações dos humanos em várias línguas; sons da Terra como o da erupção de um vulcão, do mar e das vozes de animais; e músicas. Lançar no espaço amostras do que somos testifica nossa solidão existencial na fantasia de não apenas sermos encontrados, mas também compreendidos; pois não é a incompreensão a forma absoluta de solidão?

Em 2004, a Voyager 1 deixou nosso sistema; em uns 40 mil anos, a Voyager 2 alcançará a constelação de Andrômeda. É longe, mas é perto: ainda na Via Láctea, ela é o corpo celeste mais distante que conseguimos ver a olho nu e de um alumbramento transformador no Planetário do Ibirapuera ou no deserto da Tunísia. Ora (direis), ouvir estrelas, certo perdeste o senso, Valentina; e direi que sim na esperança de que ouvir os sons da criação nos humanize mais e nos faça cuidar melhor da Terra e desses apaixonantes humanos tão sós entre bilhões de nós mesmos.

Afinal, o planeta azul é o único onde, pelo que se sabe, toma-se vinho e ouve-se Aznavour.

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