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Balanço Social

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Um olhar diferente para as desigualdades do Brasil
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Negócios de impacto unem lucro a enfrentamento de problemas sociais

Nos últimos 20 anos, empreendedores sociais melhoraram a vida de 622 milhões de pessoas em 190 países, incluindo o Brasil

Por Andréia Peres Atualizado em 2 jul 2024, 09h49 - Publicado em 2 jul 2024, 09h10
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  • Uma das primeiras iniciativas de que se tem notícia no mundo a reunir as características da chamada “tecnologia social” é o charkha. Desenvolvido em 1924, por incentivo do líder pacifista Mahatma Gandhi, que buscava alternativas para reduzir as desigualdades sociais do país, o instrumento popularizou a fiação manual feita em roca de fiar, na Índia. Ao incentivar o seu uso, Gandhi chamou a atenção para a necessidade de implementar projetos de desenvolvimento e inclusão produtiva que privilegiassem o saber popular e as soluções locais para superar a pobreza.

    Essa história está em um livro que editei há alguns anos para a Andi, o Desafios da Sustentabilidade (Editora Cortez), e lembrei dela porque as tecnologias sociais estão na base do chamado empreendedorismo social.

    Criado, em 1980, por Bill Drayton, fundador da Ashoka, uma organização global, o termo empreendedorismo social identifica negócios inovadores para enfrentar os grandes problemas sociais. Presente no Brasil desde 1986, a Ashoka teve um papel fundamental na difusão do conceito e também no apoio ao novo modelo.

    Em 2005, o tema entrou definitivamente para a agenda no país com o Prêmio Empreendedor Social. Realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, em parceria com a Fundação Schwab, braço do Fórum Econômico Mundial, a premiação completa 20 anos no final deste ano. De 2005 a 2023, 173 iniciativas foram chanceladas pelo prêmio, entre finalistas e premiadas. A maior parte delas de empoderamento econômico, inclusão produtiva, saúde e combate à pobreza e à fome.

    DO HERÓI SOLITÁRIO A NEGÓCIOS DE IMPACTO

    “No início, tínhamos um olhar muito voltado para o chamado herói solitário, aquela pessoa que queria transformar a realidade, abraçar uma causa”, lembra a jornalista e escritora Eliane Trindade, editora responsável pelo prêmio, em entrevista à coluna.

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    Segundo ela, esses heróis eram localizados por meio de uma “busca ativa”. No primeiro ano, foram 125 inscritos e oito finalistas. O primeiro vencedor foi Eugenio Scannavino Netto, do projeto Saúde e Alegria.

    Médico, Eugênio criou um navio-hospital para prestar atendimento primário de saúde regular a cerca de 15 mil ribeirinhos de 72 comunidades rurais no Pará. “Hoje, a tecnologia social que ele criou virou política pública. É o modelo de atendimento que se faz à população ribeirinha na Amazônia”, comemora Eliane.

    O modelo de empreendedorismo social evoluiu com o tempo. Ainda há muitas organizações que sobrevivem de doações, mas, aos poucos, foram surgindo negócios de impacto que ganharam escala com a lógica do mercado, sem perder foco na resolução de problemas sociais. “O campo está permeado desses negócios de impacto que criam ou prestam serviço para financiar seu próprio modelo e não ficar reféns da filantropia”, afirma a editora do prêmio.

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    BONS EXEMPLOS

    Vencedores do Prêmio Empreendedor Social, em 2014, Claudio Sassaki e Eduardo Bontempo são um bom exemplo desse “novo” formato. Ambos vieram do mercado financeiro e criaram uma plataforma de educação, a Geekie, que tem conteúdos e simulados para auxiliar alunos na preparação para o Enem. A cada escola particular que pagava pelos produtos, a dupla doava esses serviços para uma escola pública.

    “Só 10% dos alunos que concluem o ensino médio têm o nível esperado em português e matemática. São eles que criarão o Brasil amanhã. E foi isso que nos motivou a largar nossas carreiras e acreditar que poderíamos fazer algo”, disse Sassaki, na época, durante o seu discurso de agradecimento.

    Nos últimos 20 anos, os empreendedores sociais melhoraram a vida de 622 milhões de pessoas em 190 países com soluções inovadoras de negócios em áreas como saúde, educação de crianças vulneráveis, falta de moradia e pobreza. A estimativa está no relatório Duas Décadas de Impacto (disponível em inglês), publicado pela Fundação Schwab, que também coloca o Brasil como um dos dez países do mundo em que os empreendedores sociais são mais ativos.

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    No Brasil, ainda não se sabe o tamanho exato desse impacto, que vai começar a ser medido neste ano. “Vamos fazer uma estimativa a partir de uma pesquisa que o Datafolha está aplicando com todos os membros da Rede Folha, formada pelos empreendedores que permanecem mais ativos dentro do ecossistema”, antecipa a jornalista e escritora Eliane Trindade.

    Mesmo sem esses números, Eliane não tem dúvidas do potencial de transformação dos empreendedores sociais brasileiros. “Tem coisas fabulosas”, diz, destacando o exemplo das Fbacs, federação que congrega as Associações de Proteção e Assistência aos Condenados (Apacs), uma franquia de prisão humanizada.  A Fbac venceu a 13ª edição do Prêmio Empreendedor Social, em 2017.

    Sem armas nem policiais ou carcereiros, nas Apacs são os presos, chamados de recuperandos, que guardam as chaves das próprias celas, onde cumprem pena numa rotina de palestras, cursos e jornadas de trabalho.

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    Com taxas de reincidência entre 20% e 28% (contra 85% no sistema prisional comum) ao custo de um terço do preço, o modelo já foi exportado para 19 países e há cerca de 70 presídios em funcionamento.

    Num país que tem a terceira maior população carcerária do mundo como o Brasil, o exemplo é perfeito para mostrar o alcance e a potência das transformações provocadas pelo empreendedorismo social que o Prêmio Empreendedor Social vem dando visibilidade há 20 anos.

    * Jornalista e diretora da Cross Content Comunicação. Há mais de três décadas escreve sobre temas como educação, direitos da infância e da adolescência, direitos da mulher e terceiro setor. Com mais de uma dezena de prêmios nacionais e internacionais, já publicou diversos livros sobre educação, trabalho infantil, violência contra a mulher e direitos humanos.

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