Doenças raras ganham novo diagnóstico graças à revolução genética
O avanço nas pesquisas em sequenciamento está ampliando o diagnóstico de condições que, à primeira vista, parecem corriqueiras
De cada dez doenças raras, oito têm origem genética. Com isso, o progresso no estudo do DNA tem levado não apenas ao diagnóstico mais rápido de pacientes, mas também à identificação de doenças até então desconhecidas. O aprimoramento dos métodos de sequenciamento aumentou de forma significativa a capacidade de investigação clínica, permitindo a análise simultânea de centenas — ou até milhares — de genes relacionados a diferentes condições.
Nos últimos anos, a medicina tem revelado que muitos quadros aparentemente simples podem, na verdade, ser manifestações de doenças raras. É o caso, por exemplo, de doenças renais crônicas que na verdade são sintomas da síndrome de Alport; de pedras nos rins causadas por hiperoxalúria primária; ou de uma forma genética de diabetes conhecida como Mody (de Maturity-Onset Diabetes of the Young, ou diabetes de início tardio do jovem).
“O crescimento do número de diagnósticos é um forte indicativo de que as ferramentas atuais são mais sensíveis e abrangentes, permitindo identificar causas genéticas antes invisíveis em casos complexos”, afirma o geneticista brasileiro Filippo Pinto e Vairo, referência internacional em doenças raras e diretor médico do Programa de Doenças Raras e Não Diagnosticadas (PRaUD), da Mayo Clinic, nos Estados Unidos.
Raridade que afeta milhões
Segundo a Organização Mundial da Saúde, uma doença rara é aquela que afeta menos de 65 pessoas a cada 100 000 habitantes. Apesar disso, o número total de pacientes é expressivo: estima-se que os cerca de 10 000 tipos de doenças raras existentes afetem entre 263 milhões e 446 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são cerca de 13 milhões de casos.
Para empresas e gestores da saúde, isso representa um desafio de escala — mas também uma oportunidade. A capacidade de identificar rapidamente a causa genética de um problema permite economizar recursos com tratamentos ineficazes, evitar internações recorrentes e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Um exemplo concreto veio à tona em março: pesquisadores da Mayo Clinic publicaram, na revista Circulation: Heart Failure, o caso de uma paciente com problemas cardíacos sem motivo aparente. Após análise genética, foi identificada uma variação inédita da mucopolissacaridose tipo III-A, ou síndrome de Sanfilippo — doença geralmente associada a danos neurológicos, mas que, nesse caso, se manifestou de forma atípica, afetando diretamente o coração.
Desde sua criação, o PRaUD já avaliou um total de mais de 3 500 pacientes, alcançando taxas de diagnóstico superiores a 60% em alguns casos e provocando mudanças relevantes na conduta médica em quase metade deles. “Ainda há muito espaço para avançar, especialmente na interpretação de variantes genéticas incertas e no desenvolvimento de bancos de dados colaborativos que melhorem a precisão dos diagnósticos”, afirma Vairo.
Quatro doenças raras, mas nem tanto
Elas estão entre as condições genéticas menos incomuns — e por isso merecem atenção especial
Fibrose cística
Doença genética que leva à produção de secreções mais espessas, dificultando a função de órgãos como os pulmões e do sistema digestivo.
Distrofia muscular de Duchenne (DMD)
Causada pela ausência ou alteração da proteína distrofina, essa condição compromete os músculos de forma progressiva, afetando a mobilidade e, com o tempo, as funções cardíaca e respiratória.
Narcolepsia
Distúrbio neurológico caracterizado por sonolência excessiva durante o dia e episódios repentinos de sono, que podem ocorrer em qualquer situação, prejudicando a qualidade de vida.
Acondroplasia
Tipo mais comum de nanismo, afeta o crescimento ósseo. As pessoas com essa condição apresentam membros curtos, cabeça maior que o normal e tronco de tamanho proporcional.
Publicado em VEJA, julho de 2025, edição VEJA Negócios nº 16
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