Edifícios de depósito viram extensão do trabalho e mudam paisagem
Se por um lado os self storages resolvem a dificuldade da falta de espaço, de outro lado atrapalham a circulação de pedestres e complicam a vida urbana
Depósitos pessoais, do tipo self storage, viraram alternativa para americanos que querem viver com mais espaço mesmo quando o dinheiro é curto. Com custo mensal de cerca de 4 dólares por metro quadrado e opções que variam de um a 200 metros quadrados, eles representam bem mais do que um lugar onde guardar caixas de recordações, documentos, brinquedos, material esportivo e roupas de frio. Informalmente, acabaram se tornando escritórios para profissionais autônomos e estoques de pequenas empresas de varejo.
A despesa de um self-storage sai bem mais em conta do que a locação de uma sala comercial ou mesmo de um apartamento com um quarto a mais. Além do bom custo/benefício, os edifícios onde ficam esses depósitos oferecem wi-fi, banheiros, cafés e, em muitos casos, funcionamento 24 horas, o que contribui para que se tornem a extensão de casa ou do local de trabalho.
Os Estados Unidos têm 50 000 prédios desse tipo espalhados por cidades grandes e médias. Boa parte deles foi construída nos últimos anos, como efeito colateral do aumento do custo da moradia. Em Nova York, um em cada quatro edifícios de depósitos surgiu apenas na última década — são 240 no total.
Se por um lado os depósitos resolvem a dificuldade da falta de espaço, de outro criam um problema para a paisagem das cidades. Esses prédios são enormes caixas de alvenaria de oito ou dez andares e com poucas janelas. A ligação com a rua costuma se restringir a uma entrada para pedestres e outra para carros. Trata-se de uma nova versão do “efeito shopping center”, que vai na contramão dos esforços de incentivar os cidadãos a fazerem suas atividades a pé, reduzindo o trânsito e aumentando a sensação de segurança.
Prefeituras americanas já tentam restringir funções e áreas de implantação. Em Miami, os depósitos ocuparam endereços onde antes havia restaurantes, lojas e academias. Adam J. Gersten, membro do Conselho de Planejamento e Zoneamento da cidade, reclamou do efeito dos edifícios que ele definiu como “sinistros”, em reportagem do jornal The New York Times. Em Charleston, na Carolina do Sul, o conselho municipal quer exigir que o térreo desses prédios seja ocupado por lojas ou escritórios, para equilibrar os usos e impedir que os bairros fiquem com cara de áreas industriais.