A crise momentânea aberta ontem entre Fernando Haddad e Arthur Lira, após uma declaração torta do ministro da Fazenda, teve como desfecho uma demonstração de força ainda maior por parte do presidente da Câmara dos Deputados. Esta é a avaliação feita nos bastidores por aliados de Haddad, que lamentaram o solavanco nas negociações para a votação do arcabouço fiscal.
Ontem o ministro da Fazenda afirmou, em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, que a Câmara tem atualmente muito poder e não pode “humilhar” o Senado e o Executivo. A fala ocorre no momento em que a Câmara segura a votação do novo arcabouço fiscal, falando em rever mudanças feitas no Senado. Ao tomar conhecimento da fala de Haddad, Lira mandou cancelar a reunião que estava marcada para o fim do dia, para discutir a agenda econômica no Congresso.
A repercussão foi grande. Haddad não só precisou telefonar ao presidente da Câmara para se explicar, como também teve que – a pedido do próprio Lira – se retratar publicamente. Foi um constrangimento público para o ministro da Fazenda. Haddad, que nem sequer deveria estar no papel de articulador político, acabou diminuído.
Numa tacada só, Arthur Lira conseguiu cumprir três objetivos: primeiro, fortalecer-se junto aos seus pares; segundo, reforçar a mensagem de que o governo Lula terá que sentar à mesa de negociação se quiser fazer andar sua agenda no Congresso; por fim; elevar – e muito – a pressão para que Lula acelere o desenho da reforma ministerial.