Lula evitou que carta virasse promessa de um governo mais evangélico
Petista resistiu a pressões internas e garantiu que defesa da liberdade religiosa e crítica ao uso político da fé estivessem no centro do documento
A carta divulgada hoje pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com um aceno ao eleitorado evangélico é resultado de semanas de negociações internas na campanha petista. Em sua versão final, o documento guardou a defesa enfática da liberdade religiosa, as conquistas dos governos petistas e a crítica ao uso político da fé como temas centrais. E deixou de lado ideias que indicavam a formação de um governo onde os evangélicos teriam poder de voz maior.
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Foram semanas até que a carta-compromisso amadurecesse. Ficaram pelo caminho algumas sugestões como o compromisso firme de assegurar uma presença mais efetiva de evangélicos em cargos da administração pública. Ou a criação de parcerias específicas com as igrejas para o desenvolvimento de políticas sociais. Em vez disso, optou-se por transmitir a mensagem de que toda participação é bem-vinda num futuro governo Lula.
Lula sempre reconheceu internamente a necessidade de fazer um aceno a esse eleitorado. Mas foi ele quem insistiu que era preciso ter calma. O petista relatava aos aliados mais fiéis a preocupação em se ver obrigado a fazer acenos semelhantes a outros segmentos. E insistia que não estava disposto a fingir ser algo que não é. Por exemplo, foi Lula quem bateu o pé e avisou que não iria para dentro das igrejas rezar e pedir votos.
Lula sentou-se em mais de uma ocasião para discutir uma estratégia para esse setor. Disse enxergar uma dificuldade histórica do PT em dialogar com esse eleitor. E, como a coluna relatou tempos atrás, chegou a recomendar que a campanha consultasse especialistas e estudiosos do assunto. Fez a lição de casa.
Mas o senso de urgência ficou mais evidente depois que as pesquisas qualitativas encomendadas pelo partido passaram a mostrar que o plano adversário vinha dando resultado. Principalmente o de difundir notícias falsas sobre o risco de Lula fechar igrejas se eleito. Ainda assim, Lula esperou até onde foi possível. Mas, no fim das contas, entendeu que a medida era necessária.
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