Lula vive enorme dilema na PEC Kamikaze e teme dar munição a Bolsonaro
Campanha petista ainda avalia melhor estratégia para responder ao pacote eleitoreiro do governo, mas enxerga riscos no curto e longo prazos

O avanço da PEC Kamikaze, que reúne o novo pacote de bondades eleitoreiras do Jair Bolsonaro, acendeu o sinal amarelo na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O time petista fala em “armadilha”. Sabe bem que a proposta vai pressionar ainda mais a inflação e criar um estrago nas contas públicas que será herdado por um eventual novo governo. Mas ninguém ali quer ir contra iniciativas que gerem um alívio imediato no bolso do consumidor.
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Nos últimos dias, Lula incorporou o tema ao discurso, mas não saiu de cima do muro. O petista acusou Bolsonaro de tentar “comprar o povo brasileiro”. Mas insistiu que a população tem que “colocar a mão no dinheiro”, com o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, por exemplo. E, enquanto a presidente do PT, Gleisi Hoffmann chamava a PEC de “vergonhosa”, o partido votava a favor do projeto no Senado. E ainda acusava uma falta de orientação por parte da cúpula da legenda.
A dúvida maior, neste momento, é como tratar desse assunto na esfera judicial. A campanha avalia se há uma forma de contestar judicialmente o movimento de Bolsonaro, sem amargar o impacto eleitoral desse ataque. A equipe jurídica da campanha até levantou argumentos para questionar a PEC, ainda sem saber se esse poder de fogo será usado de alguma forma. O ideal, disse um integrante da campanha petista à coluna, seria encontrar uma forma de minar a PEC, sem que Lula e parlamentares do partido sejam protagonistas desse movimento.
Parte da campanha de Lula acredita que ainda pode acontecer algo semelhante ao que ocorreu até agora com o programa Auxílio Brasil. Apesar da elevação do valor do benefício para R$ 400, a reformulação do programa Bolsa Família até hoje não rendeu a Bolsonaro os frutos que sua campanha esperava. O eleitor, segundo as pesquisas de intenção de voto, não associa o benefício ao atual governo. Sem contar que o poder de compra do Auxílio foi corroído em parte pela inflação. Mas nada disso muda o fato de que o estrago nas contas públicas vai ficar para quem assumir o governo em 2023.
Outra ala do time petista é bem menos otimista. Esse grupo insiste que o vale-tudo de Bolsonaro pode dar resultado no curto prazo, convencendo parte do eleitorado a dar mais um voto de confiança ao governo. Seria uma forma de o presidente aumentar sua competitividade na corrida presidencial e garantir um segundo turno. A tese é que, se Bolsonaro souber criar uma ilusão de que o Brasil vai melhor na Economia, pode haver um prejuízo irreversível para Lula na disputa.
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