O PT nunca ganhou uma eleição para o Governo de São Paulo. Nem mesmo quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ostentava níveis de popularidade de fazer inveja ao mais carismático dos políticos e se dispunha a levar candidatos pelo braço. Nunca houve uma reunião sequer para discutir eleição estadual em que algum dirigente não verbalizasse que o partido tem teto quando o assunto é o governo paulista.
Todos os candidatos do PT desde a redemocratização sabem disso. José Dirceu, Marta Suplicy, José Genoino, Aloizio Mercadante, Alexandre Padilha, Luiz Marinho. E é por isso que até alguns dos amigos mais antigos de Lula custam a entender a total indisposição do ex-presidente em ceder a cabeça de chapa em troca de uma boa aliança nacional.
Lula bate o pé, como mostrou a repórter Julia Chaib, na Folha de S. Paulo de hoje. Pelos relatos feitos a esta coluna por pessoas próximas, o ex-presidente costuma insistir em dois fatores principais para explicar a escolha.
O primeiro, conta um interlocutor, é que Lula de fato acredita que o PT está diante de uma oportunidade única de levar o governo paulista. Isso tem menos a ver com o candidato e mais com a conjuntura política. É claro que importam o recall e o perfil de Fernando Haddad, escolhido para assumir a missão neste ano. Mas Lula acredita que nada disso bastaria, não fosse o atual momento político no Brasil.
Lula, prossegue o aliado, entende que há um desgaste nunca visto do PSDB em São Paulo. Esse “cansaço” que ele enxerga no eleitorado vem acrescido da divisão interna do tucanato, alimentada pela briga de João Doria com outros setores da legenda para viabilizar sua candidatura presidencial. Para o ex-presidente, existe também uma espécie de efeito rebote do antipetismo que marcou as eleições de 2018. São Paulo ajudou a eleger Jair Bolsonaro. E se arrepende, na visão do petista.
O segundo fator, é que São Paulo, para Lula, é sinônimo de governabilidade. Ele acredita que, se o PT assumir o governo do maior Estado do País, terá um pilar de sustentação importante para o governo federal. Seja do ponto de vista econômico, seja no Congresso Nacional. Uma peça essencial do quebra-cabeça federativo, caso ele próprio consiga retornar ao Palácio do Planalto.
Nem todo mundo no PT concorda com esses dois argumentos. Tem quem ache, por exemplo, que Lula menospreza o poder da máquina pública e a consequente capacidade de Rodrigo Garcia de se viabilizar para o governo de São Paulo. Segundo um integrante da pré-campanha petista, o potencial do vice-governador é grande e pode fazer muita sombra em Fernando Haddad numa corrida ao Palácio dos Bandeirantes. “E essa coisa da governabilidade não é tão garantida assim. O Brasil é grande e Lula sabe que comandar um País é muito mais complicado que isso”, resume o aliado.
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