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Claudio Moura Castro

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Um guia contra conspirações

Como castelos de cartas, elas caem se houver permanente vigília

Por Claudio Moura Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h18 - Publicado em 12 jun 2020, 06h00
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  • O tempo de hoje é esplêndido para inventar conspirações. Mas não é difícil pô-las a descoberto. Para ilustrar, tomemos o exemplo do suposto complô para desacreditar a cloroquina, por ser muito barata. Isso abriria o mercado para novas drogas, bem mais caras. No entanto, perguntemos:

    1. A biografia dos supostos conspiradores é congruente com as maquinações sinistras a eles imputadas? Bill Gates, por bons anos, é um dos homens mais ricos do mundo. Mas cansou-se de ganhar. Agora só pensa em gastar. Bandeou-se para a filantropia, enterrando fortunas em programas de saúde pública. Que motivação real teria para enredar-se em uma trama com farmacêuticas, militando contra o seu sonho de salvar vidas? O epidemiologista americano Anthony Fauci exibe uma belíssima e longa carreira de pesquisador. É o 12º cientista americano mais citado em estudos. Tem trinta doutorados honoris causa. Pesquisar é sua paixão, está no sangue. Se dinheiro fosse sua prioridade, estaria clinicando, regiamente pago. É inverossímil que se mova por dinheiro.

    “Que motivação real teria Bill Gates para enredar-se em uma trama com farmacêuticas?”

    2. Como os enganadores agiriam para pôr em prática as suas velhacarias? Supostamente, estariam corrompendo governos. E, também, promovendo pesquisas voltadas para desacreditar a cloroquina. Das centenas de periódicos respeitados na área, cada um convoca dúzias de pesquisadores consagrados para recomendar ou não cada publicação. Então, Gates ou Fauci estão indo atrás de contraventores nesse exército de cientistas, para referendar estudos duvidosos, a troco de subornos? Ou para encomendar trapaças científicas?

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    3. Como manter secreta a conspiração? Trata-se de uma operação com muitos parceiros e que exige amplos fundos para distribuir. Como superar as desconfianças entre as próprias farmacêuticas, comprometendo-se todas elas a acordos sinistros e a irrigar múltiplos bolsos? E isso tudo em uma velocidade estonteante, pois já saíram mais de 7 000 pesquisas sobre o novo coronavírus desde janeiro. Arruína todo o esforço um candidato a suborno que ponha a boca no mundo. Aliás, o próprio Trump adoraria ficar sabendo dessas maquinações, para desvencilhar-se de Fauci. Na prática, com tantos conspiradores, como manter segredos?

    No meio das confusões e perplexidades, as pesquisas borbulham, deveras desencontradas. Como domar essa cacofonia em benefício próprio? Duas cabeças brilhantes embarcariam nesse castelo de cartas? Se endossarem tolices científicas, correm sério risco de arranhar a reputação. De fato, inexoravelmente, a ciência vai se desvencilhando dos ruídos e falsos caminhos.

    No fundo, a receita para desmascarar uma conspiração é simples. Basta colocar-se no papel de conspirador e planejar o passo a passo requerido da trama. Aplicando as três perguntas que abrem este texto, é possível encontrar caminhos plausíveis para vencer cada etapa? Nessa teoria conspiratória em torno da cloroquina e em muitas outras, não há como soletrar um plano viável. Mas, acima de tudo, cumpre exercitar permanente vigília antes de circular como correta a mensagem recebida. A conspiração só vive enquanto há patetas contaminando uns aos outros.

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    Publicado em VEJA de 17 de junho de 2020, edição nº 2691

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