Estamos há pouco mais de dois anos e meio dentro da pandemia de covid-19. Esse período parece ter já concentrado eventos suficientes para manter ocupados por gerações historiadores, sociólogos, antropólogos, cientistas das áreas de saúde e farmacologia, entre outros. A economia global sofreu abalos que levarão anos para serem revertidos. Não há como enumerar neste espaço uma descrição abrangente do que tem sido até aqui a pandemia.
Os óbitos causados pela doença são, claro, o fator de maior gravidade envolvido em toda essa situação. No Brasil, quase 700 mil. No mundo, mais de 6,5 milhões. De acordo com a OMS, infectadas hoje, ao todo, estão quase 610 milhões de pessoas. As angústias, o sofrimento, as tragédias humanas ocorridas desde o final de 2019 e, como pandemia, desde 11 de março de 2020, geraram um desejo ardente, talvez maior que qualquer outro, de ver o fim da pandemia de uma vez por todas.
Exatamente porque é um assunto extremamente carregado de emoções e ansiedade, é preciso tomar com muitos graus de cuidado o que foi dito no dia 14 de setembro pelo diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus. Segundo ele: o índice de óbitos causados pela covid-19 desde o início da pandemia chegou ao nível mais baixo; nunca se esteve em melhor posição para declarar o fim da pandemia; e este, embora não tenha ainda chegado, “está próximo”.
Os números e gráficos que constam do WHO Coronavirus Dashboard – o painel da OMS atualizado com dados de todos os países – deixam claro que as curvas, que atingiram picos assustadores em determinados momentos, estão em declínio. Foram aplicadas mais de 12,6 milhões de doses de imunizante – e mesmo com as limitações de cada vacina, a segurança contra as manifestações mais letais aumentou (bem o mostram a redução nos óbitos).
A OMS ressalta que, para manter em queda óbitos e casos, é importante vacinar 100% das pessoas em situação de saúde mais vulnerável (idosos, pessoas com comorbidades, como desde o início se verificou) e profissionais de saúde, expostos à doença. Além disso, é preciso seguir com testes e manter programas para que variantes com alto potencial de danos à saúde sejam detectadas – possivelmente antes que se tornem crises como a que está em curso.
Próximo como possa estar o fim da pandemia, ninguém arrisca, é óbvio, um palpite. Até porque as posições variam entre os países: na China, por exemplo, algumas cidades (como Chengdu) vêm sendo mantidas em lockdown, mas ainda assim se observa aumento de casos. Já nos EUA, o presidente Joe Biden disse, em entrevista transmitida no último domingo (18) no programa “60 Minutes” (um dos mais tradicionais da TV norte-americana), que “ainda temos um problema com a covid (…) mas a pandemia acabou”. Isso prejudica por exemplo, iniciativas para promover a vacinação no país (que já tem mais de 1 milhão de mortos por conta da doença).
Até existe uma impressão muito difusa de que a pandemia possa ter acabado, uma vez que rotinas, como a de voltar a locais de trabalho, ou usar transporte público e ir a shows sem máscara, têm se firmado. Mas aqui convém ressaltar, um pouco ao contrário de Ghebreyesus, que o fim da pandemia, embora esteja próximo, ainda não chegou. Não convém subestimar o inimigo: ainda que venha em algum momento o decreto de fim da pandemia, práticas como a higienização frequente das mãos e o uso de álcool em gel bem podem ter vindo para ficar – o que é um benefício inegável. As máscaras, com toda a inconveniência de seu uso, ainda poderiam continuar em uso a depender da situação. O nome do jogo é precaução.