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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Um imunizante pensado para o futuro

Pesquisa mostra que a vacina BCG pode ajudar a combater eventuais novas doenças e pandemias

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 24 ago 2022, 12h35 - Publicado em 24 ago 2022, 12h34

Vivemos tão cercados de modernidade que, às vezes, fica um tanto afastado da nossa memória que a criatividade e a inovação não são privilégios de nossos tempos. Os avanços na tecnologia da comunicação, na engenharia aeroespacial, na biotecnologia e em praticamente qualquer outra área estão ao nosso redor cada vez mais. Mas nem todas as respostas para os problemas de hoje estão por ser criadas do zero. Um exemplo é um estudo publicado na revista especializada Cell Medicine Reports e divulgado no jornal The New York Times.

O estudo teve início antes de ter surgido a Covid-19, e o que se buscava era averiguar se haveria como beneficiar portadores de diabetes tipo 1 com múltiplas injeções de vacina BCG – que completou um século de criação no ano passado, para combater a tuberculose. A vacina foi criada pelos médicos e cientistas franceses Léon Calmette e Alphonse Guérin, em 1921, e foi batizada em homenagem a eles.

A tuberculose representou ao longo da história um flagelo de que hoje podemos fazer uma ideia aproximada, uma vez que existe a Covid-19. Trata-se de uma doença infecciosa e transmissível, que afeta em particular os pulmões, mas também chega a ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o cérebro). Em um mundo anterior à descoberta da bactéria, muitas foram as vítimas da doença: o poeta baiano Castro Alves; o escritor Franz Kafka; o pianista Frédric Chopin; o jornalista George Orwell; a lista seria longa.

O racional do estudo foi tentar fazer com que a vacina fortalecesse o sistema imunológico da pessoa com diabetes para que seu organismo pudesse resistir às muitas infecções a que fica sujeito. Segundo a reportagem do New York Times, 144 pessoas fizeram parte do estudo; apenas uma de 96 que receberam as doses de BCG no início de 2020 desenvolveram covid-19; já entre as 48 que tomaram placebo, seis desenvolveram a doença. Um outro estudo, publicado em julho no periódico Frontiers in Immunology, mostrou que, de 300 idosos que receberam a BCG, as infecções por Covid-19 foram reduzidas em parcela considerável, com menos hospitalizações que entre os que receberam placebo.

Faz pensar que se encontrou aí um caminho possível a ser seguido, segundo os pesquisadores, não para combater a atual pandemia, mas para tornar as pessoas mais resistentes a situações parecidas no futuro. A ideia é que se possa, de formas ainda a serem estudadas, fortalecer os sistemas imunológicos, de forma a que, se uma nova cepa de alguma doença altamente contagiosa surgir, não encontre hospedeiros com imunidades tão baixas ou enfraquecidas.

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Soa como um plano ambicioso, vistas todas as dificuldades que houve em se produzir vacinas na escala necessária para combater a Covid. Ainda mais levando-se em conta as controvérsias envolvidas na imunização de grandes populações. Mas inspira certo otimismo. A velocidade com que se produziu os imunizantes contra Covid-19 mostra que é possível pensar em vacinas que sirvam como uma proteção de mais amplo espectro. Claro que há muitos outros fatores envolvidos nos diversos países, como a pandemia atual deixou bastante evidente.

Mas essa ideia, de resgatar uma tecnologia imunológica já conhecida e potencializá-la, para que leve a pessoas mais resistentes, pode levar a outras iniciativas. Alimentação e hábitos mais saudáveis, disponibilidade de alimentos em países mais pobres, investimentos em saneamento – tudo isso e mais ajudará a que uma “vacina universal” possa ser mais eficaz, e quem sabe evitar que a humanidade seja apanhada tão despreparada no caso de algo parecido no futuro.

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