Livres da Covid-19, nas suas muitas variantes, talvez jamais venhamos a estar, e ondas, tais como as dos momentos mais críticos, podem ser que nunca mais aconteçam – uma vez que o mundo já dispõe de vacinas, que vêm sendo aperfeiçoadas.
Porém, passado o Carnaval deste ano, vemos um avanço dos números de casos de Covid-19 no país. Ao menos um levantamento, feito por um laboratório privado, mostra que já houve aumento de cerca de 20%. Mas é nas vacinas que se vai encontrar o diferencial, como sempre se defendeu neste espaço.
Se no início se determinavam medidas mais drásticas, como isolamento social e uso obrigatório de máscaras, o que se queria era ganhar tempo para encontrar uma vacina restringindo o alastramento do vírus. Hoje, apesar das inúmeras variantes em circulação, contamos com avanços nessa frente e o mais atual deles são as vacinas bivalentes – aquelas que protegem contra o vírus original, descoberto na cidade chinesa de Wuhan, e também contra a ômicron e suas subvariantes.
Sua introdução no calendário de vacinação ajuda a aumentar a cobertura vacinal da população. Uma vantagem óbvia é simplificar o processo de imunização e aumentar a eficiência do programa. Em vez de exigir que as pessoas recebam duas doses de diferentes vacinas, as bivalentes podem ser mais convenientes e reduzir a sobrecarga no sistema de saúde. Além disso, elas podem permitir uma resposta imunológica mais forte e mais duradoura do que as vacinas monovalentes.
Mas a questão da vacinação contra a Covid-19 com o imunizante bivalente é apenas a “deixa” para que se entre em um debate da maior seriedade. O PNI (Programa Nacional de Imunização) completa 50 anos neste ano, em 18 de setembro, e sempre foi uma referência por ser o maior projeto do tipo no mundo. A meta da fase de imunização iniciada nesta semana é de vacinar 90% da população brasileira contra a doença.
Mas o impacto que a circulação de notícias falsas (sim, as fake news) teve na confiança da população sobre os imunizantes trouxe um prejuízo para a sociedade como um todo. Reconstruir essa confiança será um processo demorado e complicado – sem falar que, enquanto não for efetivamente refeito, para que os níveis de cobertura vacinal voltem a subir, há risco de doenças erradicadas, ou perto de o serem, voltar. Trata-se de algo a ser encarado com gravidade: no mês passado, por exemplo, a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) informou que o risco de um surto de sarampo no continente americano é o mais alto dos últimos 30 anos. No Brasil, a circulação endêmica do sarampo continua – e por aqui a doença já havia sido erradicada em 2016. Em setembro do ano passado, a organização também alertava para o risco de a poliomielite (erradicada em 1994) reaparecer no Brasil.
Retrocessos no campo da imunização no Brasil não podem ser aceitos, e por isso a confiança na imunização tem de ser restaurada. Tornar a vacinação contra a Covid-19 um compromisso anual pode começar a reconstruir a confiança da população na imunização. A vacina, contra qualquer doença, foi um avanço imenso na proteção das pessoas e no desenvolvimento das sociedades. A vacina bivalente mostra quanto o engenho humano consegue progredir, principalmente em tempos de crise. Não se pode deixar que tal avanço se perca.