Em julho, completei 68 anos. Começo este texto de forma direta porque não há rodeio possível para a passagem do tempo: ela impacta a todos que querem uma vida longa. No entanto, hoje podemos almejar não só ter mais anos, mas vivê-los melhor. Esse tema sempre foi pano de fundo das minhas atividades, desde que passei a me dedicar à saúde e ao bem-estar. Volto a ele após assistir ao 17º Fórum da Longevidade, promovido pelo Bradesco Seguros. Quero deixar claro que considero as reflexões que ouvi ali valiosas demais para não compartilhar, independentemente de meus elos pessoais com o evento — pois Luiz, meu marido, é presidente do conselho de administração do banco do qual a seguradora faz parte. “Podem me chamar de velho, não me ofendo”, disse o médico Alexandre Kalache ao subir ao palco do fórum. Gerontólogo de renome, Kalache fala com a autoridade de quem trabalha há muitos anos para desmistificar o envelhecimento. Uma ficha, diz, que tem de cair para todos, pois o único segmento da população que continua aumentando é o 60+.
Em pouco mais de uma década, os “velhos” serão a maioria dos brasileiros. E não adianta se escorar na história daquele avô que passou dos 100 fazendo “tudo errado”. A herança não é o fator determinante, mostrou a geneticista Lygia da Veiga Pereira. Somos 99,9% idênticos na sequência de DNA, frisou ela, que chefia o laboratório de células-tronco da USP. Não dá, portanto, para atribuir a esse ínfimo 0,1% todas as enormes diferenças em nossas trajetórias individuais. Esse poder é das nossas escolhas. A gente gostaria muito de continuar tendo a vida que bem entende e só tomar pílulas que fizessem o papel de um estilo de vida mais saudável”, disse ela. É verdade que esse “milagre” pode vir a existir. Dinamarqueses já estudam uma molécula capaz de imitar os efeitos do jejum e do exercício. Mas, por ora, a melhor aposta é cultivar bons hábitos desde cedo.
“Dinamarqueses estudam uma molécula capaz de imitar os efeitos do jejum e do exercício”
Não uso a palavra “cultivar” à toa. Uma velhice longa e boa, forte como árvore frondosa, depende de como se nutriu a semente. Aos 18 ou 20 anos, nosso corpo lida bem com os excessos e não nos preocupamos com o que virá dali a cinquenta anos. A idade madura dos jovens de hoje, porém, será diferente. As novas gerações já estão demorando mais para galgar altos postos. As carreiras se alongam, e a experiência dos idosos tem sido valorizada em cargos de liderança. A pessoa recolhida a seus aposentos — daí o termo “aposentado” — deixará de ser realidade. Como nos lembrou o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, “teremos de nos acostumar com a ideia de continuar trabalhando, e isso pode ser muito prazeroso”.
Concordo com cada uma das afirmações que trouxe para este texto e as professo no meu dia a dia, desde o momento em que decidi mudar de vida. Eu já nem era tão moça e, por isso, me permito dizer: o futuro está sempre começando. Busco uma última lição nas palavras de um ícone atemporal, que não se dobrou sob o peso dos anos. “Existe uma fonte da juventude”, diz Sophia Loren, 90 anos. “Ela está na mente, no talento e na criatividade que depositamos em nossa vida e na dos que amamos. Quando se bebe dela, vencemos a idade.” A longevidade não é uma questão do futuro. Ela está sempre ao alcance de quem impede essa fonte de secar.
Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2024, edição nº 2917