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Coluna da Lucilia

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Café da manhã sob ataque

Mudanças culturais e econômicas ameaçam esse ritual diário

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 jul 2025, 17h08 - Publicado em 11 jul 2025, 06h00

Outro dia, vi um vídeo em que uma lata antiga do Exército americano era aberta como se fosse um tesouro: dentro dela, uma porção de café solúvel, três cubos de açúcar e três balas de fruta; em uma segunda camada, quatro biscoitos. Um conteúdo modesto aos olhos de hoje. Mas, embalada com capricho, essa refeição compacta chamada “ração C” era um banquete para os soldados na Segunda Guerra. Ela compunha seu café da manhã e permitia que enfrentassem o front com disposição.

Mais do que nutrição e energia, a refeição matinal renova a cada dia o ânimo para encarar as obrigações, nas trincheiras ou fora delas. Certamente esse aspecto subjetivo não escapou a quem teve a ideia de pôr na lata cigarros e chiclete — fumar ainda era um hábito aceito e valorizado. A ideia talvez fosse evocar o conforto de um despertar em família, quando sobre a mesa se põe não só comida, mas o afeto que motiva cada um a sair para seus afazeres. Não à toa é tão comum nos filmes de Hollywood a cena da mãe preparando com carinho o alimento matutino dos filhos.

Leio na revista The Atlantic, contudo, que o típico café da manhã americano está em extinção. O motivo pelo qual as pessoas estão deixando de consumir o combo café-ovos-bacon-suco é em parte econômico, explica o artigo. Na campanha eleitoral, o agora presidente Trump já falava do preço elevado do bacon; com a alta dos ovos e as tarifas de importação que afetam o café e a laranja, a refeição não é mais tão acessível. Eu diria, porém, que o fenômeno tem mais a ver com novos hábitos culturais, que não se limitam aos Estados Unidos. Estudos já indicam o declínio da refeição matinal em vários outros países. Seja porque as pessoas têm pressa, seja porque abraçam modas como o jejum intermitente, essa etapa vem sendo pulada.

“O ideal é a moderação: alimentação balanceada todos os dias, sem saltar refeições”

Até mesmo o conteúdo das rações enviadas a militares em missão se modificou, incluindo agora produtos como barras hipercalóricas e bebidas com eletrólitos. De certa forma, isso reflete as mudanças do mundo civil, em que o pragmatismo substituiu o toque caseiro de outra era.

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A língua ainda não registra a simplicidade crescente que a refeição matinal vem assumindo mundo afora. Ao contrário, os diversos idiomas dão pistas do peso que ela tem — ou teve. No nosso vocabulário, sublinhamos o papel central do café como bebida nacional, mesmo quando não o tomamos. Já em Portugal, é comum dizer “pequeno almoço”, exatamente o mesmo que o petit déjeuner dos franceses. Na terrinha ou aqui, também se pode dizer “desjejum”: o termo soa mais técnico, porém é gêmeo do breakfast, utilizado nos países de língua inglesa, e do desayuno, dos hispânicos. Nesses três termos, a língua faz o papel de nos lembrar a importância de quebrar o jejum, de voltar a se alimentar após as longas horas entre o fim do jantar e o toque do despertador.

Mas começar o dia com uma refeição farta, independentemente do nome que se dê a ela (como um brunch no fim de semana), tornou-se um luxo para muitas pessoas. Talvez esse apreço pela fartura ocasional reflita, na verdade, o que perdemos no cotidiano.

O ideal, digo sempre, é a moderação: uma alimentação balanceada todos os dias, sem saltar refeições. Tomar café da manhã não é uma perda de tempo, mas um rito matinal, no qual se dá as boas-vindas ao dia que temos pela frente.

Publicado em VEJA de 11 de julho de 2025, edição nº 2952

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