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Coluna da Lucilia

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É proibido parar

O sedentarismo pode ser o novo tabagismo

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h33 - Publicado em 24 fev 2023, 06h00

Hábitos socialmente aceitos numa época são rejeitados em outra. Veja o caso do cigarro. Houve um tempo, não tão distante assim, em que fumar era glamoroso. Hollywood ajudou a projetar essa imagem. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman — para citar o par romântico de Casablanca — viviam exalando charme e fumaça nos sets de gravação dos anos 1940. O encanto saído das telas teve longa sobrevida. Cinco décadas mais tarde ainda se fumava em qualquer lugar: no restaurante, no escritório, no cinema, no avião. Mas aí a ciência falou mais alto que o cinema. Uma vez provado que o cigarro faz mal à saúde, fumar passou a ser malvisto em toda parte. As pressões contra o fumante vêm de todo lado: da família, dos amigos, dos clientes, dos colegas de trabalho.

Essa lembrança me veio à mente por conta de um painel a que assisti no Fórum de Davos, “O esporte na indústria e na sociedade”. Pelo que ouvi na apresentação, acredito que podemos estar próximos de um tempo em que o sedentarismo será tão condenável socialmente quanto o tabagismo. Movimentar-se virou um imperativo da vida contemporânea. Como num círculo virtuoso, a demanda crescente por praticar esportes está levando as organizações e a sociedade a explorar novas maneiras de capturar a atenção das pessoas e engajá-­las em estilos de vida mais saudáveis. A explosão do interesse e da audiência por programas esportivos — seja a Copa do Mundo ou os campeonatos de surfe ou skate — mostra quanto o esporte cativa e impulsiona os indivíduos, tornando-se uma ferramenta poderosa de engajamento e inclusão.

“Noto como as pessoas admiram cada vez mais quem se dispõe simplesmente a caminhar”

Atletas profissionais e amadores têm tido cada vez mais a ajuda da tecnologia no estímulo à atividade física e na busca por melhores resultados, por meio de aplicativos e gadgets — que são a evolução dos pedômetros e monitores cardíacos sobre os quais eu já falava vinte anos atrás. Academias e centros esportivos brotam a cada dia nas grandes cidades. Além disso, com a profusão de aulas on-line, é possível se exercitar sem sair de casa. A pressão social pelo movimento, pela busca de saúde e bem-estar físico nunca foi tão grande.

Para mim, a atividade física sempre esteve relacionada com o estar-bem comigo mesma. Entre tantas boas opções, considero que nada substitui uma saudável caminhada na rua. Sou andarilha de carteirinha, diplomada em terras ibéricas, tendo conquistado minha Compostelana. Penso nos célebres versos do poeta espanhol Antonio Machado: “Cami­nhan­te, não há caminho / faz-se caminho ao caminhar”. Ou no nosso Drummond, para quem “o caminho é mais importante que a caminhada”. Ambos expressam a potência reflexiva e quase filosófica dessa atividade, para além dos benefícios ao corpo. Faz bem também à alma.

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Quando saio com meu marido para andar a pé, noto como as pessoas admiram cada vez mais quem se dispõe simplesmente a caminhar — não para chegar a algum lugar específico, mas apenas para tonificar os músculos e arejar a mente. Ficar parado não é mais uma opção. Se o sedentarismo fosse vendido em maço, o Ministério da Saúde certamente adver­tiria em letras grandes na embalagem: “Ficar parado faz mal à saúde”.

Publicado em VEJA de 1º de março de 2023, edição nº 2830

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