O que é, o que é? Existe em muitos lares, não faz bem à saúde e pode até matar? Para mim, a resposta é: a obesidade. Mas, a julgar pelas últimas notícias, é o aspartame. Como ex-obesa há muitos anos militando publicamente pela saúde e o bem-estar, não poderia deixar de me pronunciar a esse respeito. O Brasil está mais gordo. Há tempos mais da metade dos brasileiros está acima do peso. No fim de junho, uma pesquisa concluiu que, de um ano para cá, o porcentual de jovens de 18 a 24 anos obesos (sim, obesos! Não com sobrepeso) subiu de 9% para 17% — quase 90%. E, segundo o Atlas Mundial da Obesidade, uma em cada quatro pessoas estará vivendo com obesidade até 2035.
Qual não foi a minha surpresa, então, ao ver a notícia de que o aspartame entrou numa lista de alimentos possivelmente cancerígenos. O dado pôs em alerta pessoas que precisam restringir o açúcar e que têm no adoçante um aliado indispensável. O aspartame é um dos edulcorantes artificiais mais populares do mundo. Tem poder de adoçar 200 vezes maior que o do açúcar e não deixa resíduo amargo na boca. Por ser muito empregado, é também muito testado. Como é que, de repente, ele passa a ser visto como um perigo?
“Mudanças de hábito são em grande medida individuais e gradativas. A chave é a moderação”
Dois meses atrás, saiu a recomendação de restringir adoçantes em dietas para perda de peso. Muito barulho, muita preocupação, muitas entrevistas para, no fim, se concluir que usar ou não usar era uma decisão individual, a ser tomada com orientação. Dessa vez, o anúncio foi mais comedido. Ainda assim, ao colocar “aspartame” no buscador, uma das primeiras sugestões é a pergunta “faz mal?”. E faz? Tudo que se pode afirmar é que… não se pode afirmar! As pesquisas que embasam a tal lista não são conclusivas para estabelecer uma relação de causa e efeito entre o aspartame e o câncer. Sobre os males que a obesidade causa à saúde — que variam da diabetes a doenças cardíacas — há incontáveis estudos assertivos.
Então para que o anúncio? Para que as pessoas se lembrem de que existe um limite para o consumo. Um limite bem alto: por dia, uma pessoa de 70 quilos pode consumir 92 sachês de adoçante. Se quisermos falar de refrigerante diet, seria preciso tomar 66 latinhas para chegar perto do risco. A lista em questão tem mais de 1 000 itens e quarenta páginas. Nem todos são alimentos; e outros tantos são substâncias que consumimos sem nem ter ideia, como corantes e ácidos.
Risco mesmo, a meu ver, é o que decorre da reação quase imediata, para muitos, de procurar fontes vistas como mais benéficas, por serem naturais. Voltar a consumir mel, melaço, açúcar. É isso que as autoridades de saúde querem? Não. O que elas defendem é que se privilegie o sabor puro dos alimentos. É viável? Difícil dizer. Há muitas pessoas que não vivem sem doce em suas dietas. Outras que não abrem mão de fazer pausas no trabalho para tomar um cafezinho adoçado, até para dar um tempo no amargor do cotidiano. Temperar esses momentos com culpa também não é saudável. Não será fazendo alarde que as pessoas vão abrir mão de um gosto. Mudanças de hábito são em grande medida individuais e gradativas. A chave é a moderação. A radiação solar está no grupo dos itens certamente cancerígenos, segundo a lista divulgada. Mesmo assim, vamos à praia — ainda que usando protetor.
Publicado em VEJA de 2 de agosto de 2023, edição nº 2852