
Nunca se falou tanto em viver uma vida saudável e, no entanto, nunca estivemos tão ansiosos e exaustos. Da mesma forma, nunca estivemos tão conectados e, ao mesmo tempo, nunca nos sentimos tão isolados. Debatemos tanto sobre qualidade de vida, mas como alcançá-la vivendo em uma cultura tão tóxica? A resposta, para mim, está em levantar os olhos das telas, que tanta informação nos trazem, e voltar a interagir de verdade. Desde Aristóteles, na Antiguidade, a filosofia nos vê como animais sociais. E isso não diz respeito só ao que cada um deve desempenhar para que o todo funcione, mas, sobretudo, ao fato de que o grupo é essencial ao desenvolvimento humano.
Costumamos usar formigueiros como metáfora da sociedade eficaz e harmoniosa. Neles, cada ser entende sua função e a cumpre. Cada formiga sabe o que fazer e todas juntas operam como um corpo único voltado para manter o conjunto. As formigas se comunicam por sinais químicos e vibrações. Nós usamos palavras, gestos e, cada vez mais, tecnologias. Nossos relacionamentos são mais complexos, e suas consequências para nós também. Proximidade demais nos invade; proximidade de menos nos enfraquece. Crescemos precisando e esperando afeto e compreensão. Somos profundamente sensíveis à aprovação, à atenção e às expectativas dos outros. Ao passo que amadurecemos, passamos a necessitar também de um propósito que nos mova. O meu é levar conhecimento sobre saúde, nutrição e bem-estar. Por isso, é uma vitória ver que a consciência sobre esses temas se tornou muito mais ampla.
“A pessoa solitária adoece. Se a comida é o combustível para o corpo, os vínculos são o tempero”
Por outro lado, todo o conhecimento compartilhado exaustivamente nos meios digitais não impede que o número de pessoas que sofrem de ansiedade e depressão cresça. É que não basta comer bem e se exercitar se vivemos em permanente estado de alerta. A maravilha de poder se comunicar com milhões de pessoas, em todo o mundo e ao mesmo tempo, usando um simples toque dos dedos, não substitui o calor do encontro e do olho no olho. Fala-se tanto dos perigos escondidos nos rótulos dos alimentos, mas talvez o maior veneno contemporâneo seja ainda mais invisível: a solidão.
Mesmo cercados de gente, muitos se sentem sós. Estudos recentes mostram que a falta de afeto e pertencimento pode ser tão nociva quanto o tabagismo ou a obesidade. Para organismos moldados pela vida em comunidade, a ausência de nexos sociais é uma ameaça real. A pessoa solitária adoece. Se a comida é o combustível para o corpo, os vínculos são o tempero. Relações pessoais fortes fortalecem a imunidade, aumentam a longevidade e dão sentido à vida. Pensar na saúde integral exige entender nossa fome por conexão verdadeira. Nossa força como espécie reside no equilíbrio entre essa necessidade de cooperação em massa e a capacidade de inovar de cada indivíduo. Falo em “indivíduo” e penso no que a palavra significa: ao pé da letra, aquele que não se divide. Pelo vocabulário, então, é como seres únicos e íntegros que nos definimos. E, no entanto, a noção me parece inadequada. Nós nos dividimos a cada instante em que interagimos, espalhando e recebendo partículas uns dos outros.
Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2025, edição nº 2960