A receita da fama, segundo um dos maiores nomes de Harvard
Beatles, Star Wars, Bob Dylan, Taylor Swift, Homem-Aranha... O professor Cass Sunstein investiga os fatores que levam uns ao sucesso (e outros ao ocaso)

Como Ser Famoso. Quem depara nas livrarias físicas ou virtuais com um livro estampando esse título pode achar que é o manual de um influencer com milhões de seguidores e mantras de desenvolvimento pessoal. Mas não… A obra é assinada por um professor de Harvard que se dedicou a entender a ciência por trás da fama.
Cass Sunstein é um mestre do direito americano que adora pesquisas, teorias sociais e figuras pop. Amarra todas essas predileções em um mergulho, baseado em dados, causos e bom humor, sobre o que faz alguns seres humanos alcançarem a glória, enquanto outros fracassam pelo caminho.
O resultado de suas análises e reflexões – que cobrem dos Beatles a Bob Dylan, passando por Star Wars e os heróis dos gibis de Stan Lee – está nesse livro surpreendente e espirituoso: Como Ser Famoso, recém-publicado pela Editora Vestígio.
Sunstein decupa os ingredientes da fama, numa receita que leva doses de talento, sorte e apoio social. Nesse processo, nos apresenta os efeitos de rede, reputação e polarização que alimentam (e retroalimentam) o êxito de uns iluminados – entre eles ases da literatura como John Keats, cujo reconhecimento póstumo o elevou muito mais do que seus anos terrenos.
Não, não há uma única e miraculosa fórmula para a fama, mas alguns elementos, quando se encontram em sinergia (ou acertam o kairós dos gregos), podem catapultar um cantor, escritor ou influenciador ao estrelato.
Com a palavra, Cass Sunstein.

O senhor acredita que, com a internet e as redes sociais, mudou a dinâmica para alcançar a fama?
A dinâmica é exatamente a mesma, mas agora as coisas acontecem muito mais rápido, claro. É como se tivéssemos o que tínhamos no ano de 1400 ou mesmo em 700, só que agora operando de uma forma acelerada e global, não local! Ainda assim, o processo por trás da fama é o mesmo: vem de efeitos de rede, das cascatas de informação e reputação e da polarização de grupos.
Talento, sorte ou apoio social: quando olhamos para o longo prazo, qual seria o ingrediente mais importante para a fama?
Não dá para ranqueá-los. O talento ajuda muito, mas não é suficiente, e pode até não ser necessário. Michelangelo era um gênio, mas precisou de sorte e de suporte social. Só não vou citar nomes de pessoas famosas, mas sem talento, porque isso não seria muito legal.
O fato é que a sorte assume muitas formas e é necessária. Um sorriso na hora certa, um romance, um amigo rico ou capaz de apoiá-lo, uma ideia de alguém que você conhece… Tudo isso é sorte. Mas o suporte social também pode ser essencial. Os Beatles tiveram isso, assim como Barack Obama e Donald Trump. E inclusive William Shakespeare e grandes figuras religiosas.
Olhando para os exemplos e lições do seu livro, quais seriam bons candidatos a ter uma fama duradoura no século XXI?
Grande pergunta! A vida é cheia de surpresas, então minhas respostas serão hesitantes e humildes. Eu diria: Bob Dylan, A.S. Byatt (por favor, leiam seu ótimo livro Possessão, Taylor Swift, Stephen King e Isabelle Huppert. Espero também que a Olivia Rodrigo. Mas, para a talentosa e grandiosa Sra. Rodrigo, é muito cedo para dizer.