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‘A terapeuta foi a primeira pessoa a quem me atrevi a dizer: sou mulher’

A escritora chilena Ariel Florencia Richards retrata em 'Inacabada' as descobertas e os desafios íntimos da transição de gênero

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 mar 2025, 18h03 - Publicado em 31 mar 2025, 17h00

A pessoa com quem Juana tem mais dificuldades de se abrir sobre o seu processo de transição de gênero é aquela que ela mais ama: a própria mãe. Esse aparente paradoxo cristaliza a história de transformação – física e existencial – da protagonista de Inacabada, romance da chilena Ariel Florencia Richards, ela também alguém que trilhou essa estrada ainda cercada de solidão, incompreensões e preconceitos.

A obra, publicada pelo selo Poente da Editora WMF Martins Fontes, versa sobre como a vida e a arte operam metamorfoses, sem terem necessariamente um ponto de chegada. “Viver é rasgar-se e remendar-se”, já diria Guimarães Rosa. Um movimento perene que, como também pontificou o escritor mineiro, exige da gente coragem.

A coragem, não isenta de recuos, dores e rompantes de choro e medo, de “começar a se despedaçar e fazer algo novo de si mesma”, agora segundo a própria autora de Inacabada.

Com a palavra, Ariel Florencia Richards.

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Na introdução do livro, você diz que as palavras têm uma enorme importância nos processos de transformação humana. Escrever o romance foi um capítulo decisivo em sua transição de gênero?

Não. A verdade é que não acredito na escrita como um espaço terapêutico. Escrever o romance foi um capítulo decisivo em minha carreira literária, mas a transição de gênero, no meu caso, não passou pela prática da escrita. Passou por longas sessões de terapia com uma psicóloga e depois com uma psiquiatra, passou por diálogos difíceis com as pessoas que eu amo e por um amplo processo pessoal de negação seguida de aceitação. Porém, isso não teve nada a ver com a escrita em si. O que eu poderia afirmar é que as palavras foram chave nas incontáveis sessões com minha terapeuta, e ela se converteu na primeira pessoa a quem me atrevi a dizer: “Sou mulher”.

A afetuosa, mas, ainda assim, tensa relação entre a protagonista do livro e sua mãe sugere que, muito além da sociedade, necessitamos ser compreendidos por quem nos ama e com quem convivemos. Sob essa perspectiva, o caminho da transição é inevitavelmente solitário?

Acho que sim, há uma dimensão muito pessoal e solitária na transição de gênero que tem a ver com a decisão individual de assumir com você mesma que é o momento de mudar. Mas, como falamos também de um processo político, ele abrange um aspecto bastante social, que é o de se expor, conversar, explicar. Eu diria que essa dimensão pública da transição não é possível sem antes termos uma certeza interna a compartilhar.

As reações a atletas trans no mundo dos esportes e até mesmo a filmes como Emília Pérez expõem a dificuldade de aceitação e o preconceito vigentes em nossa sociedade. Qual é o maior desafio de uma pessoa trans hoje?

Gosto de pensar que cada transição de gênero é perfeita porque ocorre quando tem de acontecer. Nesse sentido, os desafios são sempre particulares e têm a ver com mil fatores, que variam caso a caso. Por exemplo, não é o mesmo fazer a transição aos 14 e aos 40 anos, ou passar por isso em uma capital ou em um povoado. Não é o mesmo fazer a transição hoje em dia em comparação com 20 anos atrás. Tampouco é o mesmo fazer a transição estando solteira ou com um parceiro – para não dizer quando existem filhos.

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Não me atrevo a generalizar nem ao menos hierarquizar qual é o maior desafio de passar pela transição hoje, mas posso dizer que, no meu caso, tive que superar o medo à rejeição e conseguir confiar que as pessoas que eram importantes para mim e me amavam como Juan José continuariam me amando como Ariel Florencia.

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