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‘Uma boa vida não basta – é preciso morrer de modo digno’

Livro de Adriano Silva acompanha brasileira que, diante de quadro debilitante, viaja para fazer um procedimento de morte voluntária assistida. Leia trecho

Por Adriano Silva*
19 fev 2025, 08h00

Sempre que uma morte acontece, somos lembrados de que a vida acaba. Todos morreremos. As pessoas que você mais ama morrerão. Você também vai morrer. Para qualquer ser vivo, a morte é um evento inevitável.

A morte não é o avesso da vida – ela é o seu final. O oposto de morrer não é viver, mas nascer. Já no nascimento você começa a trilhar o caminho que o conduzirá ao falecimento – o tempo que houver entre esses dois instantes é o que chamamos de vida.

A consciência da própria extinção é uma das características que nos torna humanos. Só em nossa espécie os indivíduos sabem que seus dias estão contados. Trata-se de uma clarividência terrível. Diante desse veredito incontornável sobre a brevidade atroz da nossa existência, Albert Camus cunhou sua famosa frase: “Só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio”.

Eis o questionamento ontológico: por que continuar existindo se vamos deixar de existir a qualquer momento?

Diante desse imperativo biológico, e desse impasse existencial, a única decisão possível, se tanto, para cada um de nós, frente à nossa própria finitude, é como queremos viver – e como desejamos morrer. Esse é o único controle que podemos ter sobre a fortuidade da existência humana – nos colocarmos como sujeitos ativos, e não como objetos passivos, daquilo que nos acontece.

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De um lado, é preciso viver a melhor vida possível. Experimentar prazeres, viver alegrias, espalhar sorrisos, criar e compartilhar o maior número possível de momentos felizes. Talvez esse seja o único sentido da vida humana: viver bem, consigo mesmo e com os outros, pelo tempo que der.

O dia em que Eva decidiu morrer

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Da mesma forma, também é fundamental morrer bem, evitando todo sofrimento que for possível evitar. Uma boa vida não basta – é preciso morrer de modo digno. Se a morte é parte da vida, então qualidade de vida inclui também qualidade na morte. Quando viver se transforma num exercício constante de agonia e desespero, deixar de existir pode representar a única libertação possível de uma rotina excruciante em que só há dor e infelicidade.

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Muito mais absurda do que a brevidade da vida humana é a sua continuação em condições precárias e inaceitáveis, depois que todos os limites que o indivíduo considera suportáveis foram ultrapassados.

Infelizmente, há situações em que a vida termina antes de a morte acontecer. Em que a pessoa deixa de ser ela mesma – mas continua existindo. Em que seguir vivendo é um suplício. Ou seja: a morte não é a pior coisa que pode nos acontecer. Há cenários que são piores do que a morte. O nome disso é inferno.

Para o indivíduo, isso significa ser torturado diariamente – por uma doença incurável ou por uma incapacitação irreversível. Para a família, trata-se do pior luto possível. Porque ele não acontece depois que a pessoa “descansou”, mas, ao contrário, ocorre enquanto a pessoa que amamos segue sendo seviciada, dia após dia, por uma enfermidade (e, muitas vezes, pelos efeitos devastadores de um tratamento agressivo), sem que possamos fazer nada para ajudá-la.

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Diante da perspectiva da morte como um filme de terror que acontece em câmera lenta, com cenas de enorme crueldade, e que se prolonga indefinidamente, num lugar lúgubre, onde não há conforto possível, só nos resta torcer para sermos agraciados com a chamada “boa morte” – um evento rápido e indolor.

E na impossibilidade de que isso venha a nos acontecer naturalmente, que possamos viver em um lugar em que o acesso à morte voluntária assistida (MVA) nos seja garantido, em caso de necessidade.

A ideia central do direito à autodeterminação do indivíduo é simples: ninguém pode ser obrigado a viver contra a própria vontade. Ponto.

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Antes de questionarmos o direito de um indivíduo de acabar com sua própria vida, deveríamos questionar que direito temos nós de proibir uma pessoa de ir embora, se for esse o seu desejo.

Mesmo com algumas diferenças entre as legislações, nas sociedades que já se posicionaram a favor da autodeterminação, esse é o conceito que sustenta a visão da morte com dignidade como um direito civil inalienável.

* Adriano Silva é jornalista, ex-diretor da SUPERINTERESSANTE, da Editora Abril, ex-chefe de redação do Fantástico, da TV Globo, e autor de O dia em que Eva decidiu morrer, a ser lançado pela Editora Vestígio

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