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Cristovam Buarque

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Escola é escada

Não há outro caminho para uma sociedade justa e produtiva

Por Cristovam Buarque Atualizado em 27 jun 2025, 11h00 - Publicado em 27 jun 2025, 06h00

Na semana passada, Recife promoveu a 29ª edição do Festival Cine PE, mantendo a tradição de lançar livros em meio a filmes. Neste ano, além de Imortalidades, de Eduardo Giannetti — pequeno clássico da reflexão humanista —, e Nem 8, nem 80, de Alfredo Bertini, sobre economia e cultura. Houve ainda rico debate em torno de Escola É Escada, outro título editorial. A partir do êxito de quatro jovens — Arthur Covatti, Victor Hill, Renner Lucena e Tabata Amaral — nascidos em famílias de baixa renda média e que antes dos 30 anos chegaram ao mais alto nível de sucesso, deu-se a celebração de evidente progresso. Três são empresários, Tabata é uma liderança política. O livro revela um padrão comum nas trajetórias deles: a subida de seis nítidos degraus.

O primeiro: a consciência familiar de que educação é o caminho para o futuro — e de que não deve ser privilégio apenas das famílias abastadas. Diferentemente do padrão comum das famílias pobres brasileiras, que não enxergam a escola como vetor de ascensão social nem sentem que seus filhos devem ter direito a um ensino de máxima qualidade, as mães desses jovens conseguiram vagas em boas escolas. O segundo degrau foi continuar estudando, sem evasão. O terceiro degrau foi a participação em olimpíadas do conhecimento, que, como destaca o professor Hélio Barros, oferecem reconhecimento e estímulo para o jovem estudar e abre caminho para o quarto degrau: bolsas de estudo em colégios privados de excelência no ensino médio. Graças a isso, chegaram ao quinto degrau, o ingresso em curso superior de altíssimo nível — dois no ITA, um no Insper e uma na USP. O salto maior veio do sexto degrau: uma boa ideia e capacidade empresarial para executá-la. Essas quatro biografias mostram que a escola é a plataforma essencial para o triunfo.

“Se nossos políticos tivessem oferecido ensino de qualidade, o Brasil teria abolido o quadro de pobreza”

O volume reafirma o papel do ensino ao apresentar a história, entre 1995 e 2005, de sete jovens sem escola, de mesma idade, em Toritama (PE): Rosimar, Janailson, Jailson, Jacques, Rubinho, Josivan e Taciana. Um deles foi assassinado ainda menino, outro foi preso, a menina engravidou aos 15 anos. Nenhum permaneceu na “falsa escola” onde se matriculou, mas não frequentou, não permaneceu, não aprendeu. Não concluíram a 5ª série do fundamental. Hoje, integram o imenso exército de analfabetos plenos ou funcionais. Essa história está em reportagem de Monica Weinberg, publicada em VEJA, e também em um pequeno livro com o título Década Perdida.

Ao analisar as trajetórias dos adolescentes — os que venceram e os que fracassaram —, ilumina-se a instituição escolar como acesso a chances reais para cada indivíduo e, em consequência, para o país. Se nossos políticos tivessem tido a lucidez das mães dos quatro jovens de sucesso, se tivessem oferecido ensino de qualidade para todos, o Brasil já teria uma economia de produtividade suficiente para sair da baixa renda média, teria abolido o quadro de pobreza, eliminado a vergonha da desigualdade, nem precisaria manter metade de sua população sobrevivendo na penúria graças à proteção de bolsas assistenciais. A escola é a escada para cada brasileiro e o motor para formar uma nação rica, decente, pacífica, sustentável, civilizada. Não podemos abrir mão dessas exigências.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2025, edição nº 2950

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