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Cristovam Buarque

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O berço da desigualdade

Melhorar a educação de base é caminho para o fim da pobreza

Por Cristovam Buarque Atualizado em 11 jul 2025, 16h57 - Publicado em 11 jul 2025, 06h00

Avaliações recentes mantêm o Brasil entre os campeões mundiais em desigualdade social e concentração de renda — e um dos tristes indicadores é a discrepância no acesso à educação básica de qualidade. A inclusão no ensino representaria um avanço conceitual, porque na história brasileira a escola sempre foi tratada como direito para poucos. Quando, no final do século XX, houve a intenção de universalizar a matrícula, manteve-se a equivocada tradição de que a frequência, a assistência e a permanência até o final do ensino médio deveriam continuar apenas para alguns poucos. O problema: não basta considerar educação de qualidade como direito; ela é também vetor para o progresso. É caminho para aumento da renda e da justiça social. A assimetria educacional não é, enfim, termômetro da pobreza, mas uma de suas principais causas, como sugere o título de um livro de Sebastião Salgado: O Berço da Desigualdade.

Desde que sintonizado com as exigências da economia e da sociedade, o conhecimento é capital que permite a fuga da miséria. A educação básica é determinante para libertar ou condenar uma família, um cidadão à pobreza. Ela é o ponto de partida para o acesso aos demais direitos, tanto pela renda que permite comprar os bens e serviços privados, quanto pela consciência política que capacita o cidadão a reivindicar serviços públicos. Uma visão ultrapassada leva as forças políticas a se concentrarem nas disputas sobre quem deve pagar impostos, sem perceber a mais profunda das polarizações: entre quem tem e quem não tem acesso ao banco escolar até o final do ensino médio com qualidade para enfrentar os desafios do mundo de hoje.

“De nada adiantará mudar a política fiscal se os impostos financiarem a corrupção”

Uma das razões pelas quais a desigualdade persiste de forma extrema é o fato de os políticos considerarem a pobreza apenas como falta de renda. É muito mais dramático saber que a educação é decisiva, e não tê-la é atalho para o drama. Não percebem que o verdadeiro berço da desigualdade está no berço do conhecimento: a escola de qualidade capaz de oferecer o mapa para a busca da felicidade pessoal e as ferramentas para construir um planeta melhor. Nem entendem que a desigualdade social decorre da polarização educacional de um sistema rachado entre “escolas senzala” e “escolas casa-grande”. Em vez disso, adotam uma postura assistencialista, que busca aliviar sem abolir a pobreza, e reduzir a penúria com transferência de rendas mínimas sem quebrar a estrutura concentradora que caracteriza o Brasil. Enfrentamos, de algum modo e com o empenho possível, o racismo estrutural, mas não o analfabetismo estrutural.

Embora necessário por razões de justiça social, de pouco adiantará mudar a política fiscal — que causa nojo moral ao penalizar mais o “andar de baixo” do que o “andar de cima” — se os impostos continuarem sendo usados para financiar desperdícios, ineficiências, mordomias, supersalários, aparelhamento do Estado e corrupção. Insista-se: os tributos não podem ajudar as tais “escolas casa-grande”, onde estudam os filhos do “andar de cima”, sem nacionalizar a questão da escola dos filhos do “andar de baixo”. Os últimos governos têm cuidado mais de quem termina o ensino médio, sem estratégia real e factível para desenvolver um sistema público de educação de base com qualidade máxima e equidade plena.

Publicado em VEJA de 11 de julho de 2025, edição nº 2952

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